São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996
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Cupim: você ainda pode ser despejado por um

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

No dia 23 de outubro de 1906, a bordo do 14 Bis, Santos Dumont decolou do campo de Bagatelle, nos arredores de Paris, para realizar o primeiro vôo tripulado em uma máquina mais pesada do que o ar.
Poderíamos estar comemorando os 90 anos do heróico feito em grande estilo, mas a principal estrela da festa, uma das únicas réplicas existentes do 14 Bis (o original queimou em incêndio de um museu parisiense), está jogada às traças. Ou melhor, aos Cryptotermes brevis, o popular cupim.
Eu explico: além do 14 Bis, outros aviões, como o Demoiselle, também projetado por Santos Dumont, o Cessna de Ada Rogatto, que realizou vôo pioneiro da Terra do Fogo ao Alasca, e o majestoso Jahu, primeiro avião de passageiros a cruzar o Atlântico, estão todos repletos de cupins.
Eles fazem parte do acervo do Museu da Aeronáutica, e o museu, fechado há anos, está localizado no parque Ibirapuera, sob a mesma abóbada criada por Niemeyer, que abriga também o Museu do Folclore. Acontece que o Ibirapuera foi tomado pelo cupim, essa praga do inferno que ameaça fazer com São Paulo o que aquelas baratas ETs do filme "Independence Day" tentaram fazer com o planeta Terra.
Estou exagerando? Pois saiba, ó cético leitor, que a maioria das árvores de Higienópolis, dos Jardins e do Pacaembu, só para citar três bairros nobres, está infestada de cupins. Conheço uma família de italianos que teve de abandonar a casa na rua França por causa do cupim e acabou micando apenas com o terreno.
Sinta o drama: sabe aqueles insetos voadores que você deve ter visto aos montes nos últimos dias rondando as lâmpadas dos postes ao anoitecer? Quem mora nas imediações dos rios Pinheiros e Tietê sabe bem do que estou falando. Pois são cupins e estão planejando constituir família e procriar em algum armário da sua casa. Pode apostar.
No mês passado, gastei a bagatela de R$ 250 para descupinizar dois pequenos armários. E olha que meu mata-cupins é homem sério, elimina a praga com gás venenoso. Não é daqueles farsantes que cobram dez vezes mais para dar inócuas injeções na madeira.
É por essas e outras que não gosto nem de pensar o que o cupim e os mata-cupins devem estar aprontando nas igrejas barrocas de Minas e da Bahia.

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