São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996
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Decreto indispõe Menem com sindicatos

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

Os dirigentes sindicais e o presidente argentino, Carlos Menem, se distanciaram ainda mais após a decisão presidencial de abrir para a livre concorrência os serviços de saúde dos trabalhadores.
Menem assinou na noite de anteontem o decreto que retira, a partir de 1997, o controle dos sindicatos sobre a prestação de assistência médica.
A medida mina a principal fonte de recursos das entidades trabalhistas -aproximadamente US$ 2,5 milhões anuais.
"Não sei se ele (Menem) tem força suficiente para disputar uma queda-de-braço com os grêmios sindicais", disse Lorenzo Miguel, da União Operária Metalúrgica.
A medida de Menem é uma reação às paralisações providas pelos sindicalistas em protesto contra o desemprego, que atingiu 17,1% da população economicamente ativa.
Peronismo
Miguel Lorenzo, acompanhado por Rodolfo Daer, secretário-geral da CGT, deu declarações à imprensa no cemitério de Chacarita.
Os sindicalistas foram visitar o mausoléu de Juan Domingo Perón (presidente da Argentina de 1946 e 1955 e de 1973 a 1974), no 101º aniversário de nascimento do criador da estrutura sindical que resiste no país até hoje.
Perguntado sobre a reação da CGT, o secretário-geral disse que a resposta já foi dada, com a greve geral de 36 horas realizada nos dias 26 e 27 de setembro.
Mas deixou claro que os dirigentes da central se reunirão para discutir o decreto hoje.
"Foi uma medida unilateral do governo. Os trabalhadores não foram consultados", afirmou Daer.
Opinião pública Em pesquisa de opinião realizada na última semana, 48% opinaram que os trabalhadores deveriam escolher seu plano de saúde, 22% disseram que o serviço deveria continuar centralizado pelos sindicatos e 30% não souberam responder.
O levantamento foi feito pelo Centro de Estudos União para a Nova Maioria.
Junto com a desregulamentação, Menem anunciou que abrirá uma lista para que as empresas privadas de saúde entrem no setor em 98.
Atualmente, apenas 5% dos argentinos são clientes da medicina particular, a grande maioria de classe média e alta. No Brasil, a porcentagem é de 30%.
Por outro lado, 11 milhões de pessoas estão vinculadas às 300 entidades de auxílio médico administradas pelos sindicatos. O governo prevê que, com a liberalização da saúde, sobrevivam no máximo 80 dessas entidades.
Pela legislação vigente, os trabalhadores são obrigados a associar-se à entidade determinada pelos sindicatos.

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