São Paulo, quarta-feira, 9 de outubro de 1996
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Correio eletrônico ajuda a usar melhor o tempo

BILL GATES

Pergunta - De que modo você gasta seu tempo? Pedro Mir, República Dominicana (pedromir@aacr.net). Perguntas semelhantes foram feitas por Tim Harris (harris@ucs.orst.edu), Peter Wong (petewong@hkstar. com) e outros.
Resposta - Passo menos tempo no escritório do que passava antigamente, em parte porque hoje tenho uma família, mas em parte também porque o correio eletrônico me deu liberdade para trabalhar em casa à noite e também nos finais de semana.
Ainda trabalho por dez horas ou mais, de segunda a sexta-feira, sem contar as funções sociais ligadas ao trabalho, e outras dez horas, mais ou menos, nos finais de semana.
E ainda me preocupo muito com a maneira como uso meu tempo. Sempre me pergunto: "Será que estou fazendo as coisas mais importantes?"
Passo mais ou menos metade do meu tempo no trabalho com grupos dedicados a produtos específicos -como, aliás, venho fazendo há anos.
Passo 25% do meu tempo realizando atividades ligadas aos consumidores, nas quais obtenho "feedback" do público.
O resto do tempo eu passo em atividades gerais de direção, tais como reuniões do conselho de direção, entrevistas à imprensa, contratação de funcionários, revisões orçamentárias e produção de textos.
Trabalho no meu computador cerca de três horas por dia. Geralmente passo metade desse tempo navegando na Web ou experimentando softwares. A outra metade passo lendo e escrevendo mensagens no correio eletrônico, inclusive relatórios da empresa.
Felizmente, o correio eletrônico me deu flexibilidade para poder fazer muitos tipos de trabalho a partir de quase qualquer lugar e em pequenos "blocos" separados de tempo.
Se estou curtindo um sábado ou domingo tranquilo em casa e tenho uma boa idéia, posso escrevê-la e enviá-la a quem for o caso em questão de meia hora e depois voltar para minha família.
Antigamente, eu passava a noite toda trabalhando no escritório, mas faz um bom tempo que parei de viver à base de sonecas.
Gosto de dormir sete horas por noite, porque preciso disso para me manter atento, criativo e esperto.
Tenho inveja das pessoas que podem viver dormindo apenas três ou quatro horas por noite. Elas têm muito mais tempo para trabalhar, aprender e se divertir.
Como o dia não tem horas suficientes, tento fazer duas coisas ao mesmo tempo.
No momento, estou aprendendo a ler o jornal e a me exercitar na bicicleta ergométrica ao mesmo tempo.
É uma maneira muito prática de fazer "multitasking" -desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo.
Pergunta - Um professor da Universidade de Manchester afirma que muitas pessoas passam o dia inteiro diante do computador sem produzir muita coisa, só buscando mais informações, com medo de que possam deixar passar alguma despercebida. Será que a idéia de que a tecnologia nos ajuda a viver melhor não passa de um mito? Gurvinder Dhaliwal, Reino Unido (100526.2202@ compuserve.com)
Resposta - Algumas pessoas desperdiçam seu tempo em frente ao computador, mas isso não quer dizer que a tecnologia de modo geral -ou mesmo a informática, especificamente- seja uma perda de tempo.
O computador é uma ferramenta. Você pode usar a ferramenta de maneira apropriada -e nesse caso ela será uma bênção- ou de maneira inapropriada -e nesse caso será uma perda de tempo.
Vamos usar o correio eletrônico como exemplo.
É uma ferramenta fantástica, que nos permite alcançar o resto do mundo de uma forma como nunca antes foi possível, mas precisa ser usada com inteligência para que se possa obter o máximo proveito dela.
Por exemplo, não é eficiente interromper seu outro trabalho a toda hora para responder imediatamente a cada mensagem que chega pelo correio eletrônico, especialmente se você recebe várias por hora.
É mais eficiente esperar até dispor de algum tempo contínuo e depois ler e responder várias mensagens de uma vez.
É fácil a pessoa se confundir em relação ao valor global de uma ferramenta, quando a vê sendo usada de maneira ineficiente. A questão crucial é distinguir como ela pode ser usada com eficiência.
Pergunta - Você acha que, com o tempo, os atores e os âncoras dos jornais da televisão serão substituídos por imagens tridimensionais computadorizadas? Em lugar de pagar milhões de dólares por ano a um âncora, uma rede de televisão poderia utilizar a imagem de Walter Cronkite para ler o noticiário diário. (DDdrifter@aol.com)
Resposta - Isso será tecnicamente possível.
Os estúdios de cinema já estão usando modelos tridimensionais para criar efeitos especiais que colocam a imagem de um ator em situações que seriam perigosas demais -ou simplesmente impossíveis- para o ator real, de carne e osso, ou mesmo para o dublê.
Esses efeitos especiais estão sendo vistos como a novidade quente em Hollywood, especialmente para os filmes de ação.
As imagens tridimensionais, nas quais se usam computadores para criar modelos de objetos, também vão se tornar corriqueiras na Internet.
Muitas empresas estão trabalhando com uma tecnologia "agente", que usa software para filtrar e apresentar as notícias em formato de texto.
À medida que os computadores começarem a falar, talvez constatemos que, pelo menos durante parte do tempo, estaremos ouvindo notícias apresentadas por um computador.
Walter Cronkite, que durante anos foi o mais famoso dos âncoras norte-americanos, poderia licenciar o uso de sua imagem a uma rede de TV.
Mas teremos de esperar muitos anos para que um Walter Cronkite sintético consiga imitar o Walter Cronkite real de maneira convincente, e mesmo assim acho que o público sentiria falta da personalidade de uma pessoa real.
Pergunta - Preciso me vestir como você para uma apresentação na escola. Você tem alguma dica de moda para me dar? Brian Jorgensen, 8, Albuquerque, Novo México.
Resposta - Antigamente, eu tinha o hábito de abotoar o botão de cima da camisa. Levei algum tempo para perceber que isso não era "cool". Aconselho você a prestar atenção nesse detalhe.

Tradução de Clara Allain.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644.
E-mail: askbill@microsoft.com

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