São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 1996
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Governo nega verba a vencedor do Nobel

DA REPORTAGEM LOCAL

Os pesquisadores norte-americanos Robert Curl e Richard Smalley e o britânico Harold Kroto foram premiados ontem com o Nobel de Química pela descoberta de uma molécula de carbono chamada fulereno, em 1985.
Kroto soube do prêmio horas depois de ter sido informado de que o governo britânico havia negado o financiamento de suas pesquisas -o cientista pretendia continuar estudando o assunto que lhe rendeu o Nobel.
"Acho que a ciência no Reino Unido está hoje abaixo do limite da sobrevivência. O financiamento oficial caiu para um terço do que era. O governo quer que pessoas como eu trabalhem com a indústria, e estão tentando nos coagir a isso", disse Kroto.
O fulereno é uma molécula de carbono com a forma de bola de futebol feita de gomos.
A pesquisa do fulereno foi estimulada pela descoberta, há alguns anos, de moléculas de 20 a 30 átomos de carbono na atmosfera de alguns planetas, explica o vice-diretor do Instituto de Química da USP, Paulo Sérgio dos Santos.
Segundo Santos, daí para frente se tentou produzir esse tipo de molécula em laboratório. O objetivo era descobrir quais eram suas propriedades e utilidade.
O grupo de pesquisadores vencedores do Nobel produziu essas moléculas usando como ingrediente o grafite. O grafite é um tipo de molécula formada unicamente por átomos de carbono.
"No grafite, os átomos de carbono se ligam entre si formando uma estrutura que lembra uma tela de galinheiro. Isto é, são vários hexágonos ligados entre si formando uma espécie de plano", diz Santos.
Bola de futebol
O fulereno é uma molécula formada por 60 átomos de carbono.
"Imagine que o grafite é como uma tela de galinheiro. Imagine agora que a tela se quebra em vários pedaços e que alguns deles se unem sem deixar nenhuma ponta livre. O resultado disso é o fulereno, cuja configuração é exatamente igual à de uma bola de futebol", explica Santos.
Segundo o professor da USP, a única forma de unir os 60 átomos sem deixar nenhuma ponta livre é unir pentágonos e hexágonos. "É exatamente assim que acontece com os gomos de uma bola de futebol. Apenas hexágonos jamais fechariam a bola. Só pentágonos também não."
"Assim, o que começou como uma simples curiosidade terminou na descoberta da mais perfeita molécula em termos de simetria."
A molécula é tão simétrica que, anos antes da sua descoberta, o engenheiro e filósofo americano Buckminster Fuller (o nome fulereno é uma homenagem a ele) já havia a imaginado.
Fuller inventou da abóbada geodésica. Elas podem ser vistas, por exemplo, em centros de convenções (como uma meia bola de futebol no teto de um desses centros).
"A amarração dos pentágonos e hexágonos é tão perfeita que nesse tipo de abóbada não é preciso haver pilastras para segurá-la", disse Santos. Segundo o pesquisador brasileiro, hoje se sabe que o fulereno é apenas um membro de um grande grupo de moléculas.
"Hoje abriu-se um campo muito grande, pois descobriu-se que derivados dos fulerenos têm propriedades supercondutoras."
Três norte-americanos receberam ontem o Prêmio Nobel de Física pela descoberta da superfluidez no hélio-3.
A descoberta de David Lee e Robert Richardson, da Universidade Cornell, e Douglas Osheroff, da Universidade Stanford, pode ajudar a entender como a matéria se comporta microscopicamente.

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