São Paulo, sábado, 12 de outubro de 1996
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Medida não evita déficit federal em 97

GUSTAVO PATÚ
COORDENADOR DE ECONOMIA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As medidas para elevação da receita e contenção dos gastos públicos anunciadas ontem pelo governo não serão suficientes para impedir um novo déficit federal em 1997, segundo as previsões da própria equipe econômica.
Elaborado sem levar em conta o pacote fiscal de ontem, o Orçamento Geral da União estima um déficit de R$ 8,866 bilhões (1,07% do PIB) para o próximo ano.
Mesmo com o efeito prometido do pacote, de R$ 6,5 bilhões, o déficit federal cairia para algo em torno de R$ 2,3 bilhões -0,28% do PIB.
Comparando com os resultados registrados no governo Fernando Henrique Cardoso -R$ 12,2 bilhões no ano passado (1,71% do PIB), e R$ 5,9 bilhões neste ano, até agosto (1,26% do PIB)-, isso seria um grande avanço.
Mas há um problema: o Orçamento também não leva em conta o aumento dos gastos federais com juros. Esse aumento deve acontecer após a federalização da dívida de Estados e municípios.
Os débitos estaduais estão sendo rolados por um prazo de até 30 anos com juros de 6% ao ano.
O governo deve começar no próximo ano a rolagem das dívidas das capitais em moldes semelhantes aos adotados para os Estados.
Juros
Segundo a previsão orçamentária, as despesas com os juros das dívidas interna e externa deveriam ficar em R$ 15,548 bilhões.
Deduzidos esses gastos, a União teria um superávit de R$ 6,681 bilhões -é o que se chama superávit primário.
Assim, a dívida federal cresceria menos de R$ 9 bilhões no próximo ano, como resultado das despesas com juros que não poderiam ser cobertas pelo superávit primário.
O socorro aos governos estaduais e aos municípios, porém, vai elevar os custos da dívida federal, ainda que não aumente o tamanho do débito.
Um exemplo de como isso vai acontecer é a dívida em títulos -ou dívida mobiliária- dos Estados e municípios.
Hoje, essa dívida soma R$ 47,4 bilhões, dos quais R$ 37,2 bilhões estão trocados por títulos federais.
Ou seja: o governo federal entregou títulos seus aos bancos credores dos Estados. Como ficou com os títulos estaduais em contrapartida, não houve aumento de gastos com juros.
Federalização
Mas, agora, o governo está discutindo com os Estados a federalização definitiva dessa dívida.
Pelas regras em negociação, o governo trocará por papéis federais todos os títulos municipais.
Em troca, em vez de entregar títulos, os Estados pagarão a dívida ao governo em 30 anos, a juros de 6% ao ano acima da inflação.
Como os juros dos títulos públicos devem ficar pelo menos 10% acima da inflação em 1997, a União terá prejuízo com essa operação.
Já foram fechados acordos com os Estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Em contrapartida às condições oferecidas pelo governo federal, os Estados precisam adotar medidas para contenção de despesas, demissão de servidores estaduais e privatização de estatais.
O governo pretende ainda estimular os Estados a adotarem medidas semelhantes às que estão sendo implantadas por meio do pacote fiscal.

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