São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 1996
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Cartaz de encontro causa polêmica

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Antes mesmo de começar, o 20º Encontro Anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), com início marcado para a próxima terça-feira, dia 22, em Caxambu (MG), já provocou uma polêmica entre os pesquisadores.
O motivo é o cartaz que anuncia o evento, considerado "pornográfico" e "inadequado" por alguns dos participantes.
Concebido pela artista gráfica Germana Monte-Mór, ele traz vários desenhos retratando o ato sexual, feitos pela artista plástica Gisa Bustamante.
A idéia de usar os desenhos de Gisa no cartaz partiu do sociólogo Flávio Pierucci, professor do Departamento de Sociologia da USP e secretário-executivo da Anpocs.
Conforme a Folha apurou, a confusão começou quando o presidente da Anpocs, Gilberto Velho, professor de antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comunicou a Pierucci por telefone que estava recebendo vários protestos vindos de Brasília.
Velho teria dito a Pierucci que havia recebido um telefonema de Abílio Baeta Neves, presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), um dos órgãos que financia o evento. Baeta teria dito que estava "sendo pressionado" por apoiar um evento cujo cartaz "sugere cenas de orgia, expõe as ciências humanas e não se presta a um encontro científico".
Não houve menção de nomes por parte de Baeta e até agora ninguém que seria contrário ao cartaz quis se manifestar publicamente nesse sentido.
O assunto estava sendo tratado internamente até que Pierucci resolveu torná-lo em objeto de análise pública.
A fim de contornar o mal-estar, organizou às pressas uma mesa-redonda especial, incluída na programação com o título "Erotismo e Pornografia: a Propósito do Cartaz do 20º Encontro da Anpocs".
O debate, a ser realizado na quinta-feira, dia 24, vai contar com a presença de José Arthur Giannotti, filósofo e presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), Eliane Robert Moraes, da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), que escreveu um livro sobre o Marquês de Sade, Margareth Rago, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), e Maria Luiza Heilborn, da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
A coordenação da mesa será de Renato Janine Ribeiro, do Departamento de Filosofia da USP.
Temas atuais
Polêmica à parte, a reunião da Anpocs terá na violência um de seus principais temas. Gilberto Velho fará uma conferência sobre "Violência e Cultura", abordando o assunto para além da dimensão a que é geralmente associado -a desigualdade social.
Entre os convidados estrangeiros, o sociólogo Martin Sanchez Jankowski, professor da Universidade de Berkeley (Califórnia), fala sobre "Gangues e Estrutura da Sociedade". Durante dez anos ele viveu com 37 gangues de Los Angeles, Nova York e Boston. Desse contato resultou o livro "Islands in the Street", premiado nos EUA.
Outros temas de destaque na Anpocs serão a reforma do Estado, que será objeto de uma mesa-redonda com a presença do ministro da Administração, Luiz Carlos Bresser Pereira, o narcotráfico nas relações internacionais, que também será objeto de mesa-redonda, e a reforma agrária no Brasil, que será debatida em vários grupos de trabalho.
A reunião deste ano deve levar a Caxambu cerca de mil pessoas, entre professores, pesquisadores, pós-graduandos e estudantes de graduação. Serão apresentados 313 trabalhos, feitas 13 mesas-redondas e seis conferências.
O custo do evento, segundo a direção da Anpocs, está avaliado em cerca de R$ 300 mil, 60 mil dos quais obtidos com as inscrições.
O restante do dinheiro sai das instituições que financiam a pesquisa no país. O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) doa R$ 95 mil, a maior quantia.

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