São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Novos" Zé do Caixão chegam às locadoras 30 anos depois

EDUARDO SIMANTOB
DA PUBLIFOLHA

Zé do Caixão, alter ego do diretor José Mojica Marins há mais de 30 anos, autografa hoje o lançamento em vídeo de dois títulos fundamentais de seu início de carreira: "À Meia-Noite Levarei sua Alma" (1964) e "O Estranho Mundo de Zé do Caixão" (1967).
Isso só acontece depois de ser reconhecido como um dos mestres do cinema "trash" nos EUA. "Coffin Joe" já tem 13, de seus 143 filmes, lançados no mercado americano, fato que pouco mudou o status de Mojica no Brasil.
Continua vivendo à margem da produção nacional, bancando como pode seus shows de horror em parques de diversão e uma escolinha de atores em que os pretendentes a uma suspeita fama jamais ouviram falar de Stanislavsky, mas aprendem a lidar com insetos nojentos e mortes grotescas.
Mas o sucesso de Mojica nos EUA não é algo assim tão surpreendente. A moda pegou depois que, em 1968, o diretor George Romero fez de seu filme "A Noite dos Mortos Vivos" um dos primeiros "trash-cults", ou seja, transformou em filme cultuado uma produção baratíssima, carregada em melecas que simulavam inúmeras facetas do nojo.
Uma nova geração de diretores, Quentin Tarantino à frente, confessa a influência preponderante de filmes do gênero em sua formação, antes mesmo de saberem quem é Ingmar Bergman, Antonioni ou Fritz Lang.
Só que Mojica, ao contrário de Romero, vive em longe de Hollywood. E seu cinema, muito antes de virar "cult", já havia chamado a atenção dos diretores da Boca do Lixo, em São Paulo.
Vale o destaque aqui a Luis Sérgio Person, cineasta de formação "clássica", diretor de "São Paulo S/A", entre outros filmes, e um dos primeiros a reconhecer a originalidade de Zé do Caixão e de sua encarnação cômico-niilista do mal.
O resultado de tal parceria está em "Trilogia do Terror", filme dividido em três histórias assinadas por ambos e por Ozualdo Candeias. No fim dos anos 60, Mojica já era um dos personagens folclóricos que gravitavam pelos arredores da rua do Triunfo, em SP, epicentro do que veio a ser denominado "cinema marginal" ou "de invenção".
Mas Mojica continuava firme em seus próprios métodos e meios de realização, ficando à margem do próprio "cinema marginal". Nunca deixou de fazer filmes, mesmo que as incontinências de sua trajetória o obrigassem a fazer pornochanchada ou pornô mesmo.
Hoje é respeitado por nomes como Roger Corman e pelo próprio Romero. E já passou por todos os "talk shows". Mas sua maior diversão continua sendo zombar das superstições populares e das traquinagens do cinema.

Lançamento: "À Meia-Noite Levarei sua Alma" e "O Estranho Mundo de Zé do Caixão"
Direção: José Mojica Marins
Quando: hoje, às 20h
Onde: 2001 Videoteca Megastore (av. Sumaré, 1.744, tel. 011/872-4912), com a presença do diretor

Texto Anterior: Produção aborda profissão inusitada
Próximo Texto: Barbara Hendricks volta para cantar Mozart
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.