São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 1996
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Anjos em queda

CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR-ADJUNTO DO MAIS!

Uma impressão de déjà vu acompanha o espectador durante a projeção de "Anjos Caídos", último filme do diretor Wong Kar-wai. O frescor que emanava das imagens de "Amores Expressos" (94), filme anterior do cineasta, parece aqui ser mera frescura. Mas, afinal, trata-se de juízo ou de impressão?
"Anjos Caídos" é não apenas um trabalho que segue "Amores Expressos", mas sua declarada continuação. Seu argumento seria o terceiro episódio, não-filmado, de "Amores Expressos". Nele reaparecem os personagens anônimos sofrendo da doença do amor. Só que agora eles estão do outro lado do crime. Em vez de policiais, assassinos profissionais e ex-presidiários.
E a ilusão romântica do filme anterior dá um passo adiante e cai na real. Deixa de ser promessa e vira contrato. "Nossa sociedade começou há 155 semanas", diz a mulher ao amante no primeiro diálogo.
Também aquilo que era apenas instantâneo em "Amores Expressos" -a velocidade da câmera na captação do cenário urbano-, ganha investimento poético. Metrôs, carros de sorvete, escadas rolantes, brigas em bar, aviões, motocicletas, tiroteios e fumaças de cigarro, tudo serve de veículo para a obsessão do cineasta com os fluxos do tempo.
Com "Anjos Caídos" Wong avança em seu programa de fazer um cinema impuro. Vídeo e película misturam suas possibilidades técnicas, são acelerados e desacelerados, ultracoloridos ou descoloridos até alcançar um residual preto-e-branco.
E para quem não se interessa por nada disso, há muito humor -a massagem de um porco num açougue é o ponto alto- e muita ação -em tiroteios que homenageiam o mestre John Woo-, quando até o "olho" da câmera sai respingado de sangue.

Filme: Anjos Caídos
Produção: Hong Kong, 1995, 90 min.
Direção: Wong Kar-wai

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