São Paulo, sábado, 19 de outubro de 1996
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Jovens são líderes dos quebra-quebras

Usuários reclamam dos atrasos constantes

DA REPORTAGEM LOCAL

Jovens entre 15 e 20 anos, moradores de bairros de classe média baixa da periferia e que usam os trens da CPTM há pouco tempo, são os principais envolvidos nos tumultos que acontecem nas estações de trem.
Segundo funcionários e usuários dos trens metropolitanos ouvidos pela Folha, jovens com este perfil ficaram na "linha de frente" nos quebra-quebras ocorridos desde o início do mês.
Na segunda-feira, o atraso dos trens provocou um quebra-quebra que danificou as sete estações entre Francisco Morato e Vila Clarisse (norte da Grande SP). Um trecho de 49 km foi interditado e deve ficar em reforma por cerca de seis meses.
Terça-feira à noite, passageiros incendiaram três vagões na estação Itaquera (zona leste).
No início do mês, passageiros destruíram a estação Engenheiro Goulart, na linha Variante Leste. O motivo também foi o atraso.
Esses atrasos são provocados por maquinistas e operadores descontentes com o acordo salarial. Eles tiram de operação os trens que não estejam de acordo com as normas da CPTM.
O office boy J.M.F., 17, o "Coquinho", afirmou que ajudou a destruir a estação Engenheiro Goulart.
"Eu não aguento mais ouvir o patrão reclamando quando eu chego atrasado. E como o trem não passa no horário, o jeito é tocar fogo. Quem sabe assim o governo passa a se preocupar com a gente", disse Coquinho, que mora no Itaim Paulista (zona leste) e trabalha no Brás (região central).
"Nós não temos nada a perder. Se nós não quebrarmos, ninguém vai lembrar que existe vida na periferia, vamos continuar chegando atrasado no emprego e recebendo bilhete azul do patrão", reclamou o balconista F.J.

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