São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 1996
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"Tanta emoção, é como se você estivesse lá"

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Brasil é o terceiro produtor mundial de aparelhos televisivos. A produção não pára de crescer. Os números são tão fantásticos que se tornaram exemplares de mudanças econômicas estruturais. Mas, afinal, por que televisão?
Em seminário recente no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), José Roberto Mendonça de Barros e Lídia Goldenstein, presidente e assessora do BNDES, citaram o aumento da produção de televisores como indicador do papel que a abertura e a estabilização da economia podem ter para ampliação do mercado e modernização das empresas.
Os fabricantes estimam terminar o ano na marca dos 9 milhões de aparelhos produzidos. Se as previsões se confirmarem, o setor terá atingido um crescimento de quase 50% em relação a 1995. Se levarmos em conta que a produção de aparelhos permaneceu praticamente estagnada, nos anos 80, em torno de 2 milhões, as cifras se revelam ainda mais astronômicas.
O boom na venda de televisores pode ser associado ao crescimento da oferta de programação com a TV paga, à queda nos preços, às vendas a prazo. É possível adquirir um aparelho de 14 polegadas por até R$ 28,90 mensais. Não importa que, ao final de 24 prestações, ele acabará custando quase o dobro.
"Não sei por que televisão e não ferro elétrico", observa o prof. Roberto Macedo, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos, ao informar que os televisores encabeçam a lista dos mais vendidos no setor. "O Brasil tem 40 milhões de domicílios. É difícil saber aonde vão parar esses 9 milhões de aparelhos novos."
Moradores de favelas e bairros pobres de periferia priorizam a compra de televisores -muitas vezes do segundo ou terceiro aparelho- em detrimento de outros artigos supostamente de maior utilidade doméstica. Citando dados de pesquisa realizada pela FIPE, o prof. Macedo informa que nas favelas de SP há mais domicílios com televisores do que com geladeiras.
Talvez haja uma lógica cultural aí falando mais alto do que as racionalidades econômicas. A prioridade dada à TV é recorrente e consistente. Já havia sido detectada nos anos do milagre econômico. Talvez ela tenha a ver com uma fascinação por imagens brilhantes e auto-reflexivas com raízes nos primeiros espelhos, o presente português que os nativos preferiam. Talvez ela indique a intensidade do desejo de estar conectado com o mundo, como sugere um comercial na frase citada no título deste texto.

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