São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 1996
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Discussão sobre gangues abre Anpocs

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Só é possível entender as gangues organizadas quando se leva em conta o desejo de ascensão social e êxito econômico que se esconde atrás do comportamento delinquente e dos atos destrutivos desses grupos, compostos na maioria das vezes por pessoas que estão excluídas da sociedade de consumo.
Quem sustenta a tese de que há uma "racionalidade" ou um cálculo econômico que define o comportamento à primeira vista irracional e simplesmente negativo das gangues é o sociólogo norte-americano Martín Sánchez Jankowski, professor associado da Universidade de Berkeley, que estuda o tema há mais de dez anos.
Ele é um dos principais convidados estrangeiros do 20º Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), que começa hoje.
Desigualdade
Em entrevista à Folha, Jankowski disse que as "gangues existem em sociedades em que convivem um grande desenvolvimento econômico e extrema desigualdade social".
Segundo ele, as gangues "se organizam quando os seus membros em potencial compreendem que é possível obter algum ou mais dinheiro dentro de uma grande organização".
A violência entre as gangues ou mesmo o ódio que elas manifestam a tudo que funciona ou aparenta estar em bom estado, sustenta Jankowski, só podem ser explicados quando se analisa a incapacidade do Estado em atender as demandas de inserção social desses grupos.
A violência, diz ele, "aumenta na medida em que o Estado e as instituições são incapazes de controlar a economia subterrânea, às vezes ilegal, na qual elas atuam e tentam ter o monopólio".
Livro premiado
Jankowski faz amanhã na Anpocs conferência sobre as "Gangs e a Estrutura da Sociedade". Seu livro "Islands in the Street - Gangs and American Urban Society" (1991) foi premiado nos EUA como o melhor do ano na sua área. Nele, o autor estuda o comportamento de diversas gangues em Boston, Chicago e Nova York.
Jankowski, que vem pela primeira vez ao Brasil, chegou sábado a São Paulo.
No domingo passeou pelo centro da cidade e ontem passou o dia observando o movimento na praça da República, uma das mais movimentadas na região central da cidade.
Há grande semelhança, afirmou ele, "entre grupos de jovens que se vêem por aqui e aqueles que perambulam por Chicago ou Nova York". "Vi muitos bandos, mas confesso que nenhuma gangue."

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