São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 1996
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Câmera ambígua e frescor da narrativa marcam "Guy"

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Ainda há vida possível no metacinema.
Produções inteligentes e originais sobre o cinema roubaram a cena há um mês em Veneza-96 e marcam a presente mostra paulistana. "Guy", de Michael Lindsay-Hogg, é a principal delas.
Durante os 91 minutos de projeção, a tela representa a imagem captada por uma videocâmera.
Uma jovem cineasta (Hope Davis) aborda um desconhecido na rua e não o deixa em paz, tornando-o o protagonista de seu exercício de cinema-verdade.
Ele é Guy, um rapaz absolutamente comum de Los Angeles.
O jogo é filmá-lo 24 horas por dia, indo ao banheiro ou transando com a namorada, captando o máximo de intimidade através da câmera mais neutra possível.
Claro que o processo de filmagem acaba por interferir na trajetória de cineasta e personagem, até resultar numa curiosa conclusão.
Há algo de "A Dama do Lago" (1946), de Robert Montgomery, na utilização da câmera subjetiva, embora aqui o caso seja mais complexo.
O jogo com o plano-sequência levanta questões técnico-narrativas presentes em "Trama Macabra" (1948), de Hitchcock. Já no plano comportamental, está próximo de "Sexo, Mentiras e Videotape"(1989), de Steven Soderberg.
"Guy" é o mais interessante filme já realizado pelo eclético Michael Lindsay-Hogg, até aqui mais conhecido por "Let It Be" com os Beatles. Nada que fizera antes se equipara em argúcia e complexidade.
Se o que você procura na mostra é cinema com frescor, não perca"Guy".

Filme: Guy
Direção: Michael Lindsay-Hogg
Quando: Hoje, às 16h50, na Sala Cinemateca. Falado em inglês.

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