São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 1996
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Disco traz feliz encontro entre Gustav Mahler e Pierre Boulez

Chega às lojas a Sinfonia nº 7, regida pelo maestro frncês

LUIS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não sem uma dose de humor amargo, Gustav Mahler (1860-1911) costumava dizer que era "um compositor de finais de semana". Sua agitada existência de regente, primeiro em Budapeste, mais tarde à frente da ópera Imperial de Viena e, a partir de 1908, no Metropolitan Opera House nova-iorquino, lhe deixou pouco tempo para compor.
Publicou apenas nove sinfonias, além de deixar uma inacabada, e seis esplêndidas séries de "Lieder" para vozes com acompanhamento orquestral. A densidade, a complexidade formal e a orquestração extremamente sofisticada são as marcas de seu "opus", do qual a música de câmara se encontra totalmente ausente.
À primeira vista é difícil encontrar um elo entre os cinco movimentos de sua 7ª sinfonia, ou características que lhes sejam claramente comuns. Os primeiros três foram compostos num ritmo febril, ao longo de um mês, nas breves férias de verão do compositor nas montanhas austríacas, em 1905.
Mahler passara duas semanas atormentado, em busca de inspiração e, numa carta à sua esposa Alma, conta que o tema do primeiro movimento lhe veio subitamente quando, prestes a atravessar um lago, de barco, ouviu o primeiro golpe dos remos na água. Obra ousada, de estilo inovador, foi sua sinfonia favorita.
Se Mahler pode ser considerado como um artista da transição entre o romantismo tardio e a vanguarda da segunda escola de Viena, a 7ª sinfonia marca o ponto máximo de seu avanço em direção ao modernismo. Neste sentido, é sua obra mais próxima a Pierre Boulez, maestro de música do século 20 por excelência.
A leitura que Boulez faz da 7ª, à frente da Orquestra de Cleveland, é um feliz encontro. Sem desdenhar o que esta obra, de tom áspero e viril, tem de dramático, de "pathos" característico das obras sinfônicas alemãs do século 19, Boulez enfatiza seus traços modernos. Isto se dá especialmente no inquieto "Scherzo", de ritmo brutal e praticamente desprovido de suporte harmônico, e também no desconcertante "Rondo" final, marcado por abruptas mudanças de andamento e intensidade, por paráfrases e vazios - recursos amplamente utilizados pelos compositores sinfônicos do século 20.
Também o lirismo etéreo, algo delirante, que parece profetizar Webern, em passagens isoladas no "Adagio" e na "Nachtmusik", é um dos muitos pontos altos desta leitura. A execução da Orquestra de Cleveland, com seus metais impecáveis e cordas de gigantesca amplitude, é reproduzida fielmente por uma gravação 4D.

Disco: Mahler - Sinfonia nº 7
Intérpretes: Orquestra de Cleveland e Pierre Boulez
Lançamento: Deutsche Gramophon

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