São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996
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Se você não vê perigo no amianto, abra o olho

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Acabo de receber um exemplar da revista francesa "Sciences et Avenir" de outubro, que traz um balanço dos fatos ocorridos desde maio de 1995, quando a publicação denunciou o chamado "escândalo do amianto".
Na França, maior usuário europeu de amianto na construção civil, as autoridades sonegaram durante mais de 15 anos informações sobre os males que a matéria-prima causa.
A revista pesquisou a questão durante dois anos e descobriu que, quando começaram a surgir ligações entre o amianto e a morte de operários nas minas de onde a matéria-prima é extraída, oficiais de órgãos ligados ao Ministério da Saúde foram "convencidos" por empresas como a Eternit e a Saint-Gobain -que usam o amianto na fabricação dos mais diversos produtos, de telhas a placas de revestimento- a instituir programas paliativos, de "uso controlado".
Ao mesmo tempo, porém, em que o lobby dos produtores cedia a leis que restringiam o uso desses produtos, surgiam estudos comprovando que a aspiração de fibras de amianto (que no "Aurélio" consta como "silicato natural hidratado de cálcio e magnésio") acarreta doenças fatais. Como o câncer do pulmão que matou o ator Steve McQueen, piloto de corrida nas horas vagas, que entrou em contato direto com o asbestos ao usar roupa protetora contra o fogo.
As denúncias da "Science et Avenir" mobilizaram a opinião pública francesa e em 8 de fevereiro deste ano o "Diário Oficial" de lá publicou decreto proibindo de vez seu uso e obrigando a retirada de todo o amianto das construções civis.
O processo irá levar quatro anos e continuará a matar entre 2.000 e 3.000 pessoas ao ano. A projeção é de 10 mil mortes no ano 2010.
Agora vamos ao que interessa: o Brasil possui a maior mina de amianto do mundo e tem telhas contendo amianto e caixas d'água com amianto por toda parte.
O barulho que o caso gerou lá ecoou por aqui, em uma ou outra reportagem no "Fantástico". Mas imediatamente foi abafado pelo mesmo lobby que agiu na França. E ninguém está dando a mínima.
Pois o amianto não mata apenas os miseráveis operários que trabalham em suas minas. Quando nos dermos conta de que vitima qualquer um, talvez seja tarde demais.

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