São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996 |
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Se você não vê perigo no amianto, abra o olho
BARBARA GANCIA
Na França, maior usuário europeu de amianto na construção civil, as autoridades sonegaram durante mais de 15 anos informações sobre os males que a matéria-prima causa. A revista pesquisou a questão durante dois anos e descobriu que, quando começaram a surgir ligações entre o amianto e a morte de operários nas minas de onde a matéria-prima é extraída, oficiais de órgãos ligados ao Ministério da Saúde foram "convencidos" por empresas como a Eternit e a Saint-Gobain -que usam o amianto na fabricação dos mais diversos produtos, de telhas a placas de revestimento- a instituir programas paliativos, de "uso controlado". Ao mesmo tempo, porém, em que o lobby dos produtores cedia a leis que restringiam o uso desses produtos, surgiam estudos comprovando que a aspiração de fibras de amianto (que no "Aurélio" consta como "silicato natural hidratado de cálcio e magnésio") acarreta doenças fatais. Como o câncer do pulmão que matou o ator Steve McQueen, piloto de corrida nas horas vagas, que entrou em contato direto com o asbestos ao usar roupa protetora contra o fogo. As denúncias da "Science et Avenir" mobilizaram a opinião pública francesa e em 8 de fevereiro deste ano o "Diário Oficial" de lá publicou decreto proibindo de vez seu uso e obrigando a retirada de todo o amianto das construções civis. O processo irá levar quatro anos e continuará a matar entre 2.000 e 3.000 pessoas ao ano. A projeção é de 10 mil mortes no ano 2010. Agora vamos ao que interessa: o Brasil possui a maior mina de amianto do mundo e tem telhas contendo amianto e caixas d'água com amianto por toda parte. O barulho que o caso gerou lá ecoou por aqui, em uma ou outra reportagem no "Fantástico". Mas imediatamente foi abafado pelo mesmo lobby que agiu na França. E ninguém está dando a mínima. Pois o amianto não mata apenas os miseráveis operários que trabalham em suas minas. Quando nos dermos conta de que vitima qualquer um, talvez seja tarde demais. Texto Anterior: Mulher teve 4 filhos e 1 neto assassinados Próximo Texto: Festival; Viva Santos Dumont!; Firme e forte Índice |
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