São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996
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Lui Farias filma história dos Mamonas Assassinas

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

O cineasta carioca Lui Farias, 38, nunca conseguiu se encontrar com os cinco músicos que formavam os Mamonas Assassinas.
Mas, no fim do ano passado, conheceu Ralado, o jovem técnico da banda. Cruzaram-se rapidamente em um hotel do Rio, onde o grupo acabara de se hospedar.
O rapaz estava muito feliz, saboreando o repentino sucesso. Tinha os cabelos tingidos escandalosamente -de azul, verde, amarelo, vermelho.
Alguém fez um comentário sobre a exótica cabeleira. Ralado, então, foi pegando cada fio de cabelo e repetindo: "Cor, cor, cor...". Depois, apontou para a própria testa e completou: "Corno".
"A euforia do menino, aquele jeito entre ingênuo e malicioso de brincar me impressionaram bastante", recorda o cineasta.
Nascia ali o embrião de um filme que só agora deverá se concretizar. No último dia 19 de setembro, Farias adquiriu o direito de resgatar a carreira dos Mamonas Assassinas em um longa-metragem.
Também conquistou a permissão de produzir uma série de desenhos animados para a TV que terá como protagonistas Dinho, Bento Hinoto, Júlio Rasec, Samuel e Sérgio Reoli.
As novas produções irão engordar uma galeria que, desde a morte dos Mamonas há sete meses, num acidente aéreo, não pára de crescer. Hoje, já são seis os produtos que exibem a marca da banda (leia quadro à esquerda).
Roberto Carlos
Lui Farias diz que, logo depois de conhecer Ralado, deparou na televisão com o filme "A 300 Km por Hora". O longa de 1971 transformava Roberto Carlos, então mito da Jovem Guarda, em piloto de corridas.
"Tive um click e pensei que poderia fazer o mesmo com os Mamonas -aproveitá-los, como personagens, num filme de aventura." Mais que um presente do acaso, a idéia remete às origens do cineasta.
Ele é filho de Roberto Farias, o diretor de "A 300 Km" e de outras duas incursões cinematográficas do "rei".
Procurados por telefone, os Mamonas gostaram do projeto. E marcaram um encontro com Lui para depois da primeira turnê em Portugal. O acidente de avião aconteceu antes.
"A idéia original do filme se foi com os músicos, não tem remédio. Mas levar a biografia da banda para as telas me anima porque é uma forma de homenageá-los."
O contrato assinado há pouco mais de um mês prevê que o longa sairá em três anos. O próprio cineasta deverá dirigi-lo.
Também atuará como produtor em parceria com Antônio Carlos Troian, empresário de aproximadamente 30 shows dos Mamonas.
A dupla embolsará metade do faturamento (incluindo as vendas dos prováveis vídeos). A outra metade irá para os familiares dos músicos e a B&S, empresa de Rick Bonadio e Samy Elia, descobridores da banda.
O documento estabelece que a série de desenhos animados terá de ficar pronta dentro do mesmo período -três anos.
"Só que, por enquanto, estou priorizando o filme", avisa o cineasta, que já assinou dois longas: "Com Licença, Eu Vou à Luta" (1985) e "Lili, a Estrela do Crime (1987-88).
Lui ainda não definiu o elenco nem o roteiro da produção, orçada em R$ 5 milhões (filmes nacionais costumam custar bem menos, algo como R$ 1 milhão).
Adianta apenas que não deseja realizar um documentário, embora pretenda usar depoimentos de pessoas que presenciaram a explosão do grupo.

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