São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996
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As moscas

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - O PMDB jogou ontem lenha na fogueira da disputa pela presidência do Senado.
José Sarney (PMDB-AP), atual presidente do Senado, comandou uma reunião para demonstrar publicamente que interessa ao seu partido continuar no comando da Casa.
Em resumo, o recado é que o PMDB pretende ter candidato. O nome será indicado no momento apropriado. E não será tolerada a quebra de uma tradição entre os senadores, de que o partido com a maior bancada "indique" o presidente do Senado.
Hoje, o PMDB tem a maior bancada. O PFL está laçando senadores. Pretende ter a maior bancada até o início de 97. A eleição é em fevereiro.
Outra possibilidade de manobra mais discreta é fazer uma nova leitura da tradição. Pelos olhos dos estrategistas do PFL, não seria errado considerar a maior bancada levando-se em conta o número total de um bloco de partidos aliados.
Assim, ficaria mais fácil para o PFL. O partido se aliaria a outras siglas e formaria o maior bloco da Casa. Sem cooptar diretamente novos senadores.
Também está em jogo a verdadeira interpretação do regimento do Senado. Ali não está escrito que a maior bancada deve indicar o presidente.
O texto determina que haja uma eleição, com voto secreto e tudo. E que seja assegurada "tanto quanto possível" na composição da mesa diretora a "participação proporcional das representações partidárias ou dos blocos parlamentares". Está armada a bagunça.
"O doutor José Sarney deveria explicar logo quais são as regras. Só isso. Essa decisão do PMDB foi fora de tempo", disse o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), um dos candidatos a presidente do Senado.
Sobre se o seu partido vai aliciar senadores ou apenas disputar a presidência da Casa com os parlamentares que tem hoje, ACM soltou uma de suas frases emblemáticas: "Não quero espantar as moscas".
Não disse quem são as moscas. Nem em qual direção estariam voando.

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