São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996
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Internet ameaça modelo de ensino

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O filósofo e professor da Universidade Paris 8 Pierre Lévy defende que o modelo atual de universidade está ameaçado pelas novas redes eletrônicas de comunicação.
Lévy proferiu ontem a palestra "Educação e Cibercultura", na abertura do seminário "A Universidade na Sociedade da Informação", promovido pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) em conjunto com a Associação das Universidades Européias.
O evento, que está sendo realizado no Memorial da América Latina, em São Paulo, termina amanhã.
Segundo Pierre Lévy, hoje, por conta da velocidade de transmissão de informações, "os conhecimentos adquiridos por uma pessoa no início de sua vida profissional serão obsoletos no final de sua carreira".
Em casos extremos, o professor diz que os conhecimentos adquiridos no primeiro ano da faculdade poderão estar ultrapassados antes de o aluno se formar.
Para Lévy, os meios eletrônicos de informação, entre eles a Internet, são os principais instrumentos de conhecimento em nossos dias. Por isso, Lévy afirma que os sistemas de educação precisam sofrer duas grandes reformas.
Em primeiro lugar, precisam se adaptar ao que ele denomina de AAD (Aprendizagem Aberta e à Distância), ou seja, usar técnicas de ensino à distância, incluindo redes de comunicação e "todas as tecnologias intelectuais da cibercultura". "Nesse sentido, quem ensina deve estimular a inteligência coletiva de seus estudantes em vez de ser um mero provedor de conhecimento", diz Lévy.
A segunda reforma ocorreria em relação ao conhecimento adquirido. "Se as universidades perdem progressivamente o monopólio da criação e transmissão de conhecimento, o sistema de educação deve assumir uma nova missão: orientar as carreiras individuais e contribuir para o reconhecimento do conjunto das capacidades dos indivíduos, incluindo os conhecimentos não acadêmicos."
Lévy considera a WWW (World Wide Web) a expressão mais significativa do modelo atual de transmissão do conhecimento. "Em lugar de ser uma massa amorfa, a WWW articula uma infinidade de pontos de vista sem haver hierarquização e unificação predominantes."
Para Lévy, o desafio da cibernética é a "transição de uma educação estritamente institucionalizada (escolas, universidades) para uma situação de intercâmbio generalizado de conhecimento."
Nesse sentido, segundo o professor, o Estado deveria garantir a todos "uma formação básica de qualidade e permitir o acesso livre e gratuito a bibliotecas e centros de comunicação eletrônicos, visando possibilitar o acesso do cidadão à cibercultura."

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