São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996
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PF não investiga morte de advogado

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM NATAL

Quatro dias depois do crime, a Polícia Federal ainda não começou as investigações sobre o assassinato do advogado do CDHMP (Centro dos Direitos Humanos e Memória Popular) de Natal, Gilson Nogueira de Carvalho, 32.
O crime ocorreu na madrugada do último domingo, em Macaíba (25 km ao sul de Natal), no Rio Grande do Norte.
A assessora de comunicação da Polícia Federal em Natal, Telma Costa, disse que o delegado da PF Gilson Ribeiro Campos -cuja chegada em Natal estava prevista para anteontem- deverá desembarcar "provavelmente" hoje na cidade para iniciar o trabalho.
Ele foi designado pelo ministro da Justiça, Nelson Jobim, para investigar o caso.
"A PF de Natal ainda não fez nenhuma diligência porque estamos esperando o delegado de Brasília."
O pedido para que a PF conduzisse as investigações foi feito pelo governador do Rio Grande do Norte, Garibaldi Alves (PMDB), que argumentou em ofício enviado a Jobim que Carvalho tinha tido conflitos com a polícia do Estado.
Como advogado-assistente da Promotoria de Justiça no auxílio de famílias de vítimas em crimes contra direitos humanos, Carvalho denunciou pelo menos 20 assassinatos atribuídos ao grupo de extermínio "Meninos de Ouro", formado por policiais civis.
Carta ao presidente
O presidente da secção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Estado, Adilson Gurgel, considerou "preocupante" a demora da PF em iniciar as investigações. "Quanto mais tempo demorar, mais difícil fica de encontrar os assassinos", disse.
Gurgel afirmou que enviou uma carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso, pedindo "pressa" na investigação.
Ele disse que orientou os advogados de uma comissão formada pela entidade para acompanhar o caso para que pressione a PF.
O coordenador do CDHMP, Roberto Monte, disse que a demora pode comprometer "indícios e provas" deixados pelos assassinos. Ele disse que até ontem fragmentos das balas que o atingiram ainda estavam no local do crime.
Gilberto Carvalho, irmão do advogado morto, disse que seus parentes estão considerando "muito estranha" a demora da PF.
O procurador de Justiça do Rio Grande do Norte, Emmanoel Cavalcanti, afirmou que o governo do Estado eximiu-se da responsabilidade sobre as investigações, já que o Ministério da Justiça assumiu o caso.
Cavalcanti disse que o delegado de Macaíbas, Luciano Queiroz, foi designado para fazer investigações preliminares até que o delegado da PF assuma o caso.

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