São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996
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PAX AMERICANA

A proposta do presidente dos EUA, Bill Clinton, de até 1999 incorporar à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) países que pertenceram à esfera de influência da antiga União Soviética será um teste decisivo do fim da Guerra Fria.
Isso porque na Rússia a reação à proposta de ampliação da Otan tem sido recebida com irritada resistência por vários líderes, a começar pelo recém-demitido general Alexander Lebed. A velocidade e as condições, assim como os países que venham a ser efetivamente incorporados à Otan, serão possivelmente condicionados pelas reações russas.
Mas é importante não menosprezar os aspectos políticos domésticos da declaração do presidente Clinton. Michigan, onde na última terça-feira foi anunciada a data de 1999, é um Estado com grande concentração de imigrantes poloneses, tchecos e húngaros. E o candidato oposicionista, Bob Dole, vinha tecendo duras críticas à política externa do governo, sublinhando a timidez dos EUA com vistas à expansão da Otan.
A data de 1999 já era defendida havia algum tempo pelos europeus como limiar para a incorporação das democracias emergentes do Leste à Organização. Na prática, a expansão da Otan significaria ampliar o alcance do chamado "guarda-chuva nuclear" ocidental.
A rigor, o teste geopolítico remete a conflitos que historicamente não se limitam ao período da Guerra Fria. Afinal, o que faz do Velho Continente um espaço tão complicado, sobretudo nos planos étnico e cultural, é ter sido palco ao longo de séculos de sucessivas ondas migratórias de conquista imperial e de hegemonia alternada entre Oriente e Ocidente.
O desmoronamento da União Soviética, os conflitos balcânicos, a pacificação no Oriente Médio (que também afeta todo o Mediterrâneo) e a consolidação da União Européia atualizam esses confrontos milenares. Resta saber se essa "pax americana" terá o poder de suplantar tantos e tão arraigados atavismos.

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