São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 1996
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Filme retrata situação-limite absurda e verossímil

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A menos que haja surpresas entre os inéditos que disputam na próxima semana o Festival de Brasília, "Como Nascem os Anjos" é o grande filme brasileiro do ano.
Cineasta inventivo e refinado, Murilo Salles construiu um filme de atmosfera tensa em torno de uma situação-limite ao mesmo tempo absurda e verossímil.
Fugindo de traficantes, três jovens do morro entram numa mansão para que Maguila (André Mattos), possa fazer xixi. Os meninos que o acompanham não têm mais que 12 anos: sua "mulher" Branquinha (Priscila Assum) e o amigo Japa (Silvio Guindane).
A invasão é confundida com assalto, Maguila é baleado e as duas crianças têm de assumir o controle da situação. A mansão é de um milionário americano (Larry Pine), que vive com sua filha (Ryan Massey). O lugar é cercado pela polícia e, depois, pela TV.
Além de vencer as dificuldades evidentes -assentar o eixo dramático na atuação das crianças, fazer Larry Pine interpretar em português-, Salles conseguiu a proeza de manter o tom do filme sempre entre o cômico e o trágico.
O filme conquistou em Gramado o prêmio de direção e o prêmio da crítica, além de kikitos especiais para os atores mirins e uma porção de prêmios técnicos. Foi bem recebido no Festival de Toronto (Canadá). Tudo indica que fará carreira no Brasil e no exterior.
Haverá quem considere sensacionalismo colocar crianças armadas na tela. Mas, se elas estão armadas na rua, virar as costas a isso seria hipocrisia. E a única maneira honesta de encarar o assunto no cinema é com arte e competência. É o que faz "Como Nascem os Anjos".
(JGC)

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