São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 1996
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RAPIDEZ E ISENÇÃO

A luta em defesa dos direitos humanos no Brasil já fez inúmeras vítimas, em casos nem sempre esclarecidos pelas autoridades. O histórico de impunidade, aliado à falta de uma política preventiva eficiente, abalou a imagem do país em relação ao tema junto à comunidade internacional, avaliação que persiste, apesar de progressos pontuais.
No caso do assassinato de Francisco Gilson Nogueira de Carvalho, advogado do CDHMP (Centro de Direitos Humanos e Memória Popular) de Natal (RN), no último domingo, há pontos obscuros que apenas uma investigação detalhada, isenta e transparente poderá esclarecer.
O governo federal agiu rapidamente e de forma correta ao determinar que a Polícia Federal assumisse o inquérito sobre o crime. Mas é preocupante a aparente demora verificada nos primeiros dias que se seguiram ao crime para que fosse de fato iniciado o processo de investigação.
Não é necessário ser especialista em inquéritos policiais para saber que qualquer delonga pode enfraquecer provas, distanciar as autoridades de evidências ou mudar a disposição de possíveis testemunhas de colaborar com a apuração do caso. Quanto mais rápidas forem as autoridades, menor a margem para que surjam falhas ou dificuldades.
A PF e o próprio Ministério da Justiça também não podem se omitir de responsabilidade por erros que possam ter cometido na proteção ao ativista -devido a ameaças de morte que ele vinha sofrendo-, suspensa poucos meses antes do assassinato. Se houve equívocos na conduta da PF ou em decisões do ministério, eles devem ser explicitados durante as investigações sobre o crime.
O governo tem a chance de mostrar que realmente está empenhado em esclarecer crimes envolvendo a defesa dos direitos humanos. Essa determinação, além de satisfazer anseios da opinião pública, tanto nacional como internacional, é necessária para que o país alcance a maturidade e o desenvolvimento tão almejados.

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