São Paulo, sábado, 26 de outubro de 1996
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Sakamoto se prova invasor em novo CD

LUIZ CAVERSAN
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO

O japonês Ryuichi Sakamoto é um sutil invasor. Dos que desfrutam sua musicalidade, invade placidamente alma e coração com ritmo, melodia, emoção cristalizados em temas que de alguma maneira mesclam sons do oriente, pop e música contemporânea.
Já fazia algum tempo que ele não trazia novidades ao Brasil. A última vez foi em 1995, quando aqui esteve como convidado do violoncelista carioca Jaques Morelenbaum. Foi um luxo, compartilhado, no palco, pelo amigo (dele) Caetano Veloso e também pelo violinista inglês Everton Nelson.
E é com Morelenbaum e Nelson que Sakamoto retorna no CD "1996", revisitando algum dos seus hits mais festejados e também com composições inéditas.
Ao contrário de seu CD anterior, "Sweet Revenge", em que usava e abusava dos recursos eletrônicos para passear por ritmos tão diversos como hip-hop, rhythm and blues e techno, em "1996" Sakamoto é minimal.
Lança mão apenas do piano acústico e abre espaço para as possibilidades do cello e do violino. E é aí que a coisa pega: a suposta escassez de recursos torna ainda mais palatáveis temas que já eram admiráveis com orquestra e instrumentos eletrônicos.
Exemplo claro é "High Heels". Como tema principal do filme "De Salto Alto", de Pedro Almodóvar, continha uma overdose instrumental, aliás adequada ao estilo do espanhol. Rearranjada, ficou mais intimista e "cool", sem perder o romantismo.
Outros exemplos dessa mesma linha são as regravações dos temas dos filmes "O Último Imperador" e "O Céu Que Nos Protege", de Bernardo Bertolucci, e "Furyo", de Nagisa Oshima.
São casos em que a economia de recursos definitivamente não compromete a qualidade final.
O talento digamos "cinematográfico" de Sakamoto não se restringe, no CD, a esses exemplos. Pode ser notado em "The Wuthering Heights", escrita para a refilmagem de "O Morro dos Ventos Uivantes", dirigida por Peter Kosminsky, e, sobretudo, em "1919", a faixa mais conceitual do disco.
Inspirada nas trilhas sonoras dos filmes franceses dos anos 60, tem como fundo a voz de Vladimir Lênin, tirada de um discurso feito em 1919 pelo líder da revolução que criou a União Soviética.
Para os aficionados por Sakamoto, que aguardam o lançamento no Brasil do álbum "Smoochy", "1996" traz em roupagem diferenciada duas composições daquele trabalho: "Bibo no Aoroza" e "Aoneko no Torso", mais dois exemplos de acerto na dosagem da criatividade compositiva de Sakamoto e do talento instrumental de Morelenbaum e Nelson.

Disco: "1996"
Artista: Ryuichi Sakamoto
Lançamento: Milan/BMG-Ariola
Preço: R$ 20, em média

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