São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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Para segurar aluno na escola, prefeitura dá leite

ALEXANDRA OZORIO DE ALMEIDA
DA REPORTAGEM LOCAL

O programa Leve Leite, um dos carros-chefes da propaganda malufista, entrega todo mês uma lata com dois quilos de leite em pó para alunos até a 8ª série que frequentem mais de 90% das aulas.
Cada lata produz cerca de 15 litros de leite, o que dá meio litro por dia por criança.
Segundo a prefeitura, o programa, lançado em fevereiro deste ano, é uma "medida profilática preventiva, visando garantir o desenvolvimento físico e neurológico das crianças".
"O Leve Leite estimula a responsabilidade e o interesse pela escola", afirma Francisco Nieto Martins, secretário do Abastecimento, responsável pelo programa.
O Leve Leite custa R$ 6,5 milhões por mês à prefeitura e atende também as creches municipais. Segundo a secretaria do Abastecimento, são beneficiadas 800 mil crianças.
Uma das críticas feitas até pelas próprias mães beneficiadas é que o programa atinge indiscriminadamente todas as famílias.
Desperdício
"Tem muita gente que recebe o leite e não precisa. Acho o programa um desperdício. A função do colégio é ensinar", afirma a dona-de-casa Miriam Figueiredo Ramires, 44, mãe de um aluno do escola municipal Heitor de Andrade, em Veleiros, bairro na zona sul.
O secretário Francisco Martins argumenta que seria dispendioso montar um cadastro de quem realmente precisa do leite. "O molho acabaria saindo mais caro que o peixe", diz.
Apesar de a premissa do projeto ser o estímulo à aula, na prática, o leite vai para todos os alunos, mesmo os com baixa frequência.
Segundo uma funcionária de uma escola municipal que não quis se identificar, a lista de presença não é levada a sério.
"A criança pode ter faltado o mês todo, mas, vindo no dia da entrega, recebe o leite do mesmo jeito", afirmou.
Ela alega que, como a prefeitura não recolhe as latas remanescentes, é desperdício não entregá-las.
Muitas mães, apesar de aprovarem o projeto, concordam que a presença não é fundamental.
"Acho ótimo receber o leite, mas não funciona como incentivo. Quem frequenta as aulas continua frequentando, e quem não vinha não vem. O controle não é rígido. Mesmo quem falta, leva", afirma a dona-de-casa Fátima Ribeiro Lima, 39, também mãe de aluno da escola Heitor de Andrade.
Por outro lado, muitas mães não poupam elogios ao programa. "Funciona sim. Tem muito pai que faz questão que os filhos frequentem as aulas para trazer o leite para casa", diz a ajudante de fábrica Maria Helena Martins dos Santos, 34.
"É difícil o meu menino faltar no colégio, porque ele sabe que eu quero o leite no final do mês", afirma a dona-de-casa Vera Lúcia Pereira, 33.

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