São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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Modelo engorda 8 kg em frente a câmera

DA REPORTAGEM LOCAL

Para ter alguma chance no mercado da moda, as adolescentes que diariamente procuram as principais agências de modelos de São Paulo têm de ser altas e magras.
Uma regra informal, mas comum nesse meio, é calcular o peso ideal da modelo subtraindo 20 números da sua altura. Assim, uma menina que tenha 1,75 m de altura não deve passar dos 55 kg.
"A tendência é mulher magra e alta mesmo. Se ela não tiver esse perfil, vai ser apenas mais uma", explica Ana Paiva, diretora da agência L'Equipe.
Segundo o psiquiatra Táki Cordás, coordenador do Ambulim (Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares), a menina que se encaixa nesses padrões está abaixo do seu peso normal. "Eles estão querendo anoréxicas."
Para Liliana Gomes, coordenadora do concurso Elite Model Look, a exigência tem explicação. "A câmera engorda de 6 kg a 8 kg. A modelo tem de ser mais magra que a pessoa normal porque a foto potencializa."
Mesoterapia (injeções subcutâneas de enzimas), bandagens e massagem são tratamentos que a agência Elite recomenda às modelos. "É o sacrifício da moda", diz.
"Uma mulher fora de medida destrói o trabalho do estilista."
Morgana Arruda, da agência Ford, acredita que, mesmo magras, as modelos estão cada vez mais saudáveis.
"Se você escolheu ser modelo, infelizmente existe um padrão de beleza para isso. Imagine alguém desfilando (um manequim) 42. Ia ficar um horror."
Para ela, a mania da magreza não é das modelos. "É o povo que quer ficar magro".
Sonho adolescente
A central de informações da Elite recebe por dia entre 30 e 40 chamadas de meninas que querem ser modelos. Na Ford, em média 20 candidatas a modelo visitam a agência a cada dia.
"Houve uma época em que o sonho de toda adolescente era ser professora. Hoje é ser modelo", afirma a psiquiatra Lucinda do Rosário Trigo, diretora da clínica Conviver, que trata de pacientes com transtornos alimentares.
Ela classifica o padrão imposto às modelos como "tirânico". "As meninas começam a querer entrar nesse padrão a qualquer preço."
Para Cordás, a cobrança desses padrões revela "falta de responsabilidade com o destino do outro. É uma exigência assassina."

Onde encontrar - Ambulim:r. Dr. Ovídeo Pires de Campos, s/nº, São Paulo, SP, CEP 05403-010, tel. (011) 3067-6975.

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