São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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'Pai Playcenter' está em baixa no Brasil

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O "pai Playcenter" ou o "pai McDonalds" -aquele tipo de pai separado que se limita a levar a criança passear- está sendo substituído pelo pai participante.
Também vem crescendo o número de homens que, consensualmente ou não, estão ficando com a guarda dos filhos.
"Nos anos 50, esses casos eram exceções", afirma Antonio Carlos Malheiros, juiz do 1º Tribunal de Alçada Civil de São Paulo. "Hoje é cada vez mais frequente pais que ficam com os filhos."
Em pelo menos 80% dos casos, no Brasil, a guarda ainda permanece com a mãe.
"Não se trata de uma questão cultural ou de costume", afirma o advogado Ricardo Penteado. "Sabe-se que a mãe tem um papel mais marcante em algumas fases do desenvolvimento dos filhos."
A decisão do juiz deverá atender sempre os interesses da criança.
Em muitos casos, quando o pai sequer reconhece o filho, o peso cai todo sobre a mulher.
"Crio dois filhos sozinha, sem ter onde deixá-los quando vou para o trabalho", diz a diarista Terezinha Lourdes Pinto, 27.
A professora primária E.R.Z., 41 -mãe de uma filha de três anos que não foi reconhecida pelo pai-, não reclama de ajuda financeira, mas da ausência do pai. "Nós mulheres podemos dar conta do recado sozinhas, mas a criança tem direito a ter um pai."
A tendência mais presente entre casais separados é a adoção de uma guarda compartilhada. "Os pais não querem mais ser visitantes e sim participantes na vida dos filhos", afirma Malheiros.
Ricardo Penteado diz que orienta seus clientes a não estabelecer regras rígidas na visita aos filhos. "Os horários não devem se limitar a um tempo para matar a saudade", afirma Penteado.
Penteado observa que o homem deixou de ser apenas o provedor econômico do lar para assumir um papel de participação.
"As escolas, por exemplo, que antes ignoravam o pai separado, agora estão promovendo atividades com a presença deles."
Segundo especialistas da área da família, os valores estão mudando rapidamente e é preciso que o Judiciário esteja atento a essas mudanças.
(AB)

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