São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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Mercosul tem 'mal de mercado regional'

LUCIA MARTINS
DE LONDRES

O Mercosul sofre do "mal dos mercados regionais", que acabam se fechando para o resto do mundo e ficando pouco competitivos e pouco eficientes.
A crítica feita por um estudo do Banco Mundial, que provocou indignação no ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, e em outros setores do governo brasileiro, é confirmada pelo uruguaio Francisco Panizza, 49.
Ele é professor de política latino-americana da London School of Economics e responsável pelo Centro de Estudos Mercosul/Conesul, criado na semana passada.
"Esse problema existe, mas não é novidade porque os países-membros sempre tiveram esse tipo de comportamento em relação ao comércio exterior. O Brasil, por exemplo, mantém grandes dispositivos de proteção aos seus produtos, o que acaba atrapalhando o relacionamento com os vizinhos."
Panizza afirma que muitos exportadores estão reclamando do retrocesso no processo de abertura comercial do Brasil.
"Os argentinos reclamam muito dos entraves brasileiros. Os uruguaios e paraguaios, por sua vez, também reclamam do Brasil e da Argentina. Dizem que eles estão elevando as tarifas aduaneiras de alguns produtos e atrasando a integração progressiva."
Redução de tarifas
As negociações do Mercosul começaram em 1991 e, segundo acordo feito pelos quatro países-membros (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), as tarifas de importação têm que ser reduzidas progressivamente a zero até o ano 2000.
Hoje, o Mercado Comum do Sul é o quarto maior bloco do mundo. Tem um mercado de 240 milhões de pessoas, que movimentam cerca de US$ 1 trilhão por ano.
Mas Panizza vê alguns entraves para o sucesso do bloco. Um deles é a falta de mecanismos internos para regular o seu funcionamento.
Outro entrave para o Mercosul, segundo Panizza, é a grande diferença de tamanho das economias e de interesses entre os países.
"Enquanto para o Uruguai o Mercosul é muito, muito importante, para o Brasil é quase irrelevante, principalmente para os Estados acima de São Paulo."
Os números confirmam. Quase a metade das exportações do Uruguai (47%) vai para o Mercosul. O mercado comum compra 40% dos produtos vendidos pelo Paraguai.
Já para a Argentina e o Brasil, o Mercosul perde importância. Ele leva, respectivamente, 29% e 13% das exportações dos dois maiores.
"Isso faz com que haja conflitos de interesse, o que não ajuda muito em um mercado comum."

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