São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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Dinheiro é a questão

SÍLVIO LANCELLOTTI

Não são a televisão e o desconforto dos estádios os culpados pela falta de público nos jogos de futebol do Brasil. Ninguém pode esperar que a torcida compareça quando uma pobre arquibancada custa R$ 10.
Tal quantia corresponde, arredondada, a 10% do salário mínimo do país. Quinze anos atrás a torcida paulista pagava, por uma velha geral, menos de meio por cento do salário mínimo de então.
O preço da entrada cabocla fica ainda mais agressivo quando comparado aos valores cobrados nos certames da Europa.
Na Itália de estádios excelentes uma arquibancada custa os mesmos US$ 10 -lá, todavia, o salário mínimo é cerca de oito vezes superior ao do Brasil.
Detalhe: na última semana o capo da Fiat e da Juventus de Turim, Umberto Agnelli, responsabilizou o preço dos ingressos pela queda na média de público do campeonato -de 30 mil para 28 mil pessoas...
Na Espanha, uma arquibancada custa US$ 20, o valor mais alto da Europa. O torcedor, porém, pode fazer uma assinatura de todos os jogos do seu time como mandante por meros US$ 300, o que diminui o valor unitário para menos de US$ 15. E as crianças e as mulheres pagam apenas a metade.
Na Inglaterra, uma arquibancada custa US$ 12. Na França, custa meros US$ 6. Na Alemanha, custa somente US$ 3. Por isso, seguramente, sobe cada vez mais a média de público no campeonato tedesco -hoje, 31.277 pessoas.
Melhor, famílias conseguem comprar a chamada Kombikarten, assinatura anual que nada cobra das crianças, apenas a metade das mulheres, e ainda propicia condução e lanches gratuitos, grande estímulo ao torcedor.
Consequência: uma afluência generosíssima aos estádios. A média do Bayern está perto dos 60 mil espectadores por peleja, maravilha...

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