São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996 |
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Mantiqueira encontra o 'padrinho' Bosco
CARLOS CALADO
Ao lado da "big band" paulista estará um de seus admiradores mais famosos: João Bosco. "Às vezes, eles confundem as coisas e me chamam de padrinho, mas antes de tudo em sou um fã da Mantiqueira", diz o cantor e compositor mineiro. "O trabalho da banda é maravilhoso." Criada em 1992, a "big band" liderada pelo saxofonista e arranjador Nailor "Proveta" Azevedo, 35, já conseguiu um feito raro na área da música instrumental: formou um público fiel. Apresentando-se há três anos, todas as segundas-feiras, no bar Vou Vivendo, seus 13 integrantes dão um exemplo de tenacidade. "Não tem sido nada fácil", diz o maestro Proveta. "Só conseguimos manter a banda até agora porque temos um compromisso não apenas com a música, mas também entre as pessoas." Esforço Na verdade, esse esforço para manter viva uma "big band" vem da década passada. Antes de criar a Mantiqueira, Proveta e o trompetista Walmir Gil (seu parceiro há 18 anos) já tinham formado a Sambop Brass e a Aquarius -bandas dissolvidas antes mesmo de chegarem a gravar. O estabelecimento da Mantiqueira no bar Vou Vivendo, segundo Proveta, mudou a orientação musical e o próprio estilo dos arranjos da banda. "Antes, tocávamos John Coltrane, Charlie Parker e outras coisas mais instrumentais, sem uma preocupação direta com o público. O Vou Vivendo foi o lugar onde ocorreu a química entre a banda e a platéia", diz. Para essa mudança de atitude, ressalta o maestro, foi fundamental a entrada do arranjador e baixista Edson Alves. "Ele trouxe para a banda a idéia de explorar mais o lado melódico dos arranjos." A consciência de tocar mais para a platéia do que para satisfação pessoal passou a orientar a nova fase da banda. "Tem caras por aí abusando do virtuosismo. Tomamos muito cuidado com os exageros", diz Proveta. Ao trocar os clichês das "big bands" norte-americanas por arranjos de obras de Pixinguinha e Tom Jobim, entre outros, a partir de 94 a Mantiqueira passou a se aproximar de uma concepção mais brasileira de música instrumental. "Não temos preconceitos contra o jazz ou contra 'standards', mas agora preferimos enfatizar melodias brasileiras. A proposta da banda é resgatar a beleza da nossa música", afirma o maestro. O repertório do disco oferece uma panorâmica de estilos do instrumental brasileiro: do samba de gafieira ("Linha de Passe") ao chorinho ("Seis no Choro"), passando pela bossa nova ("Insensatez", de Tom Jobim). Sem falar nas notáveis composições de Proveta ("A Procura", "Aldeia") e Edson Alves ("Cubango"), que indicam o potencial da banda para também criar seu próprio material. O show Aproveitando o encontro com o "padrinho", a Mantiqueira promete estrear na apresentação de hoje dois novos arranjos de canções de João Bosco. Além de "Linha de Passe" e "Prêt-à-Porter de Tafetá", que já faziam parte de seu repertório, a banda toca "Papel Marché" e "Desenho de Giz". Obviamente, incluindo os vocais de João, que também terá espaço para uma sessão banquinho-e-violão. No mais, a banda exibe arranjos do CD, como "Carinhoso" (Pixinguinha), "Seis no Choro" ("medley" com clássicos de Zequinha de Abreu, Benedito Lacerda e Ernesto Nazareth, entre outros) e "Aldeia" (de Proveta). Quem não puder ir ao Ibirapuera tem outras chances de ouvir a Mantiqueira, nesta semana. A banda também vai estar se apresentando no Vou Vivendo, de segunda a quarta-feira, sempre às 22h. João não participa desses shows, mas garante que a parceria está só começando. "A banda gostou da minha idéia de repetir esse show em algumas praias, durante o verão. É importante levar esse som para a garotada", diz o músico. Show: Banda Mantiqueira e João Bosco Onde: praça da Paz, no parque Ibirapuera (zona sul da cidade) Quando: hoje, às 11h Ingresso: entrada franca Texto Anterior: 'Curdled' realiza comédia sobre cadáveres Próximo Texto: Choro e samba predominam Índice |
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