São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 1996
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Governo avalia desempenho de bolsas

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU (MG)

Apenas 50,5% dos estudantes de mestrado em todas as áreas têm bolsas. Mas outros 32,3% deles já tiveram, no mesmo curso. Isso indica eles que perderam o auxílio, muitas vezes por ultrapassar o prazo de conclusão. Os mesmos números para doutorandos são, respectivamente, 55,5% e 25,2%.
Os dados são resultado de uma pesquisa da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior), que queria saber o efeito real das bolsas.
O alto número de alunos que perderam bolsas indica que pode haver problemas na política de concessão, embora a norma tenda cada vez mais ser de apertar o tempo, com mestrados devendo durar até dois anos, doutorados, quatro ou cinco, de acordo com o caso.
O estudo, com mais de 2.000 alunos, mostrou em que condições o aluno de mestrado ou doutorado dá conta de seu objetivo -produzir uma dissertação nas diversas áreas do conhecimento.
Formação tardia
Ficou claro não apenas algo que as agências de fomento estão temendo -a formação tardia do pesquisador-, como também diferenças importantes entre as áreas de exatas, biomédicas e humanidades, que alguns cientistas sociais temem não estarem sendo adequadamente tratadas.
A pesquisa foi apresentada por Jacques Velloso, da UnB (Universidade de Brasília). Também participaram da sua realização os pesquisadores Reginaldo Prandi, da USP (Universidade de São Paulo), e Lea Velho, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), na reunião da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), em Caxambu (MG), na semana passada.
Os cientistas sociais quiseram ver quanto tempo os pós-graduandos levam para fazer seus trabalhos, quais as dificuldades que encontram, como sobrevivem e quanto produzem de artigos durante esse período.
A primeira conclusão da pesquisa foi de que as áreas são muito diferentes entre si, o que indicaria que mereceriam talvez políticas diferenciadas, como diz Prandi.
Os alunos de exatas, como os de física, começam mais rápido a pós e também terminam mais rápido.
Já os médicos começam mais tarde, pois imediatamente depois de formados costumam passar pelo período de residência. Só depois de estabelecido um perfil profissional é que o médico inicia uma carreira acadêmica.
Os alunos de doutorado em ciências agrárias são os que mais têm bolsas: 77,2%, contra 62,7% nas ciências humanas, e apenas 36,9% na área de saúde. A bolsa exige dedicação integral, o que tenderia a afastar médicos de buscá-las.
Já no mestrado os números são mais parecidos. Os bolsistas entre os alunos de agrárias são 56,8%, contra 49,6% nas humanas e 47% nas ciências da saúde.
Bate-boca
Ironicamente, a primeira chance de debater os dados da nova pesquisa, assim como algumas das idéias-mestras com as quais as agências de fomento estão trabalhando, foi prejudicada por um insólito bate-boca entre dois pesquisadores importantes em sua áreas -o filósofo José Arthur Giannotti, presidente do Cebrap, e Octávio Ianni, da Unicamp.
Durante a apresentação da pesquisa, Ianni, na platéia, considerou "tecnocráticas" algumas idéias das agências de fomento, enquanto Giannotti tachou de "demagogia" os comentários de Ianni. O bate-boca se prolongou com a entrada de outros da platéia, até ser encerrado pela mesa.

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