São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"O Guarani" estréia na Bulgária sob regência de Julio Medaglia

Krasimira Stoianova e Rumen Doikov interpretam Ceci e Peri

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A SÓFIA

A soprano Krasimira Stoianova, 34, e o tenor Rumen Doikov, 43, têm qualificação suficiente para se tornarem novos produtos que a Bulgária sistematicamente exporta para o "star system" lírico.
Eles foram Ceci e Peri na estréia, sexta-feira, de "O Guarani", de Carlos Gomes, na Ópera Nacional de Sófia.
A produção foi patrocinada pelo Banco Financeiro e Industrial de Investimento-Sudameris e teve a direção cênica do brasileiro Cyro del Nero e a regência do também brasileiro Julio Medaglia.
Stoianova foi recentemente Gilda, em "Rigoleto" (Verdi), e será em breve Suzana, em "As Bodas de Figaro" (Mozart). Como Ceci, ela incorpora idealmente a personagem de José de Alencar.
Não tem o peso de uma "prima donna". Está bem próxima de Niza Castro Tank, a soprano brasileira dirigida há quase 40 anos por Armando Belardi, ou então de Rosana Lamosa, que ainda este ano encenou a mesma heroína num concerto, em São Paulo, sob a direção de Tulio Collaccioppo.
O amor de Ceci pode ser lido de duas formas. Ou transporta dentro de si um potencial lascivo que a impulsiona em direção ao índio Peri, ou, ao contrário, descobre o amor de forma delicada, gradativa.
Del Nero tomou partido da delicadeza. É antológica a cena em que, ao tentar descobrir seu sentimento, a soprano lírica de riquíssimo timbre brinca com uma boneca que traz os trajes de Peri.
Quanto a Rumen Doikov, se sua empostação é mais madura, ele teve ao mesmo tempo, em Sófia, menor naturalidade no papel. Comportou-se como um grande tenor numa ópera italiana, o que "O Guarani" não deixa de ser.
O espetáculo, com mais três récitas, poderá ser negociado com as óperas de Amsterdã e com o próprio Scala, onde Carlos Gomes o dirigiu pela primeira vez, em 1870. Foi o que disse Plamen Kartaloff, diretor da Ópera de Sófia.
A Bulgária, com 8 milhões de habitantes (menos que a cidade de São Paulo), tem 8 teatros de ópera e 14 orquestras sinfônicas. A cultura -como a economia e a própria sociedade, nessa transição para o pós-comunismo- está em crise.
Mas nenhum conservatório ou teatro foi fechado por problemas de verba. Agora o governo estimula a co-produção.

O jornalista João Batista Natali viajou à Bulgária a convite do Banco Sudameris

Texto Anterior: Projeto 'Arte Cidade' arrecada R$ 2 milhões em patrocínios
Próximo Texto: Londres lembra morte de Carlos Gomes em concerto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.