São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 1996
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Masson cria conto cruel da juventude

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos jovens tudo é permitido nas histórias de amor. Menos, talvez, a infelicidade, a sensação de fracasso e toda a angústia que acompanha a derrota sentimental.
Sua tese se apresenta na vida de Alice, a bela e talentosa Sandrine Kimberlain. Na primeira vez em que a encontramos, seu universo está em ruínas. Acaba de perder o emprego em uma fábrica de enlatados de peixe e deseja, mais do que tudo, partir.
Uma deprimida enfim, e que vê como saída uma drástica mudança de cenário. Chega, então, à cidade de Lyon -lugar de parada depois que tenta, comicamente, seduzir um chefe, anos mais velho que ela, para conseguir trabalho.
Lá, como obra do acaso, conhece Bruno, tão jovem, infeliz e sem rumo quanto ela. Um homem incapaz, em consequência da tristeza, de conseguir o prazer mínimo com uma prostituta.
O resultado é o previsível: a paixão que nasce entre os dois é feita de medo, covardia e confusão, algo muito próprio das pessoas desajeitadas. O amor infeliz.
O cinema de Masson (seu filme foi um dos sucessos do inverno de seu país) faz parte do que agora já se convencionou chamar de "o novo cinema francês"; a produção feita por aqueles que acabariam com o império da racionalidade, das conversas densas e intermináveis em ambientes perfumados e tediosamente sofisticados.
É essa recusa a sua idéia de mundo e, acima de todo o resto, da França. Masson diz não às paisagens urbanas, ao tom de conspiração dos cafés e ao ambiente burguês.
Seus personagens são tristes e sombrios, mas carregam, tão ingenuamente, o dever da honra proletária.
Mas, curiosamente, "Ter ou Não Ter" não se afasta -talvez tanto quanto gostaria- de um leve e preciso "Conto de Verão", de Eric Rohmer, também exibido na Mostra.
Rohmer já foi acusado (ao lado de seus companheiros da nouvelle vague) de ser o responsável por esse "cinema de muita fala e pouca ação" da França.
Seu tom é grave e procura em tudo a originalidade. Mas o princípio dessas duas gerações (Masson tem 29 anos e Rohmer mais de 70), continua muito próximo, ao menos quando pensam nesse mesmo tema. A impossibilidade do amor.

Filme: Ter ou Não Ter
Quando: hoje, às 20h30, no Masp

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