São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 1996
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Instalação quer recriar os raios cósmicos

FERNANDO OLIVA
DA REDAÇÃO

Ler as mensagens do universo na forma de raios cósmicos, retransmiti-las para o público de suas instalações na forma de luz e som, atingir o subconsciente das pessoas. Keiichi Tanaka, artista convidado do 11º Videobrasil, dispõe de 90 m2 do Sesc Pompéia para fazer funcionar sua parafernália eletrônica e, como ele quer, transcender os cinco sentidos básicos da percepção.
Se olfato, visão, tato, paladar e audição são ou não suficientes para adentrar -e entender- o mundo de Tanaka, só quem visitar "Cosmic Rays" poderá dizer. A instalação, parte da série "Luminous", usa equipamentos de alta tecnologia para reproduzir os raios cósmicos que formam os ventos solares do universo. Para tanto, a matéria-prima de Tanaka é o raio laser, usado em profusão.
Funciona assim: um aparelho, chamado de contador "geiger", capta os raios cósmicos e emite sinais eletrônicos correspondentes. Estes, por sua vez, são lidos por um sistema computadorizado de sampleadores e projetores que, por fim, transformam os sinais em efeitos sonoros e raios de luz laser. A visão da obra nunca é a mesma, pois depende do dia e da hora.
Esse edição do Videobrasil (12 a 17 de novembro) marca a segunda visita do artista japonês ao país. A primeira foi em 91, como participante da 21ª Bienal Internacional de São Paulo. À época, a instalação que Tanaka trouxe ao Brasil chamava-se "Aquarium With High Tech", também da série "Luminous". Desta vez, Tanaka aposta suas fichas no que chama de "fenômeno natural", e seus característicos estados de inconstância.
Tanaka deve chegar a São Paulo na próxima semana. De Tóquio, via fax, falou à Folha sobre videoarte, "Cosmic Rays" e luz.
*
Folha - Por que você batizou este trabalho de "Cosmic Rays"?
Keiichi Tanaka - Porque não se trata de uma sequência programada de raios de luz, mas raios cósmicos e radiação como fenômeno natural, em constante mutação.
Folha - Sobre o que fala a série de instalações "Luminous"?
Tanaka - Ela simboliza a luz como origem da vida.
Folha - Por que a luz é essencial no seu trabalho recente e, especialmente, em "Luminous"?
Tanaka - Eu acho que o desejo subconsciente pela luz faz parte de nosso caráter moral. E, como luz é a origem da vida, acho que provoco mais impacto se uso esse "desejo" em minha produção.
Folha - E o que significam os raios cósmicos em sua obra?
Tanaka - Eu trabalho com um fenômeno natural que foge ao alcance de nossos cinco sentidos. Quero estimular algo além desta dimensão, explorar a paisagem onde os raios cósmicos são a origem da vida primitiva.
Folha - Como seu trabalho se desenvolveu desde "Aquarium With High Tech", de 1991, até "Cosmic Rays", de 1995?
Tanaka - Na primeira, a obra se encerrava nela mesma. Agora, o fenômeno natural é a questão principal. Este trabalho é sempre transformado pelo fluxo do tempo. O tempo específico da instalação e do público é o que mais importa, já que a obra proporciona vivências diferentes, dependendo do aqui e agora.
Folha - Quando e por que você começou a fazer videoinstalações?
Tanaka - Há cerca de uma década, eu percebi a eficiência dos raios de luz na produção de novas formas de expressão no ambiente.
Folha - Você se define como um videoartista?
Tanaka - Não, como um artista da luz ambiente.
Folha - A Internet e o CD-ROM representam novos caminhos para os videoartistas?
Tanaka - As novas mídias, como Internet e CD-ROM, tem grandes possibilidades para ampliar a maneira de se fazer arte. E eu vejo meu futuro artístico ligado a estes métodos.
Folha - E o futuro da videoarte?
Tanaka - Mais que documentar, a videoarte será uma fonte de novas imagens.

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