São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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Folheto de esquina ganha estudo na USP

MAURO TEIXEIRA
EDITOR DE IMÓVEIS

Os folhetos de lançamentos imobiliários, distribuídos nos semáforos das grandes cidades nos fins-de-semana, quem diria, viraram objeto de estudo acadêmico.
O trabalho é uma agradável novidade em um setor pouco habituado a utilizar análises mais profundas ou históricas, como é o caso do mercado imobiliário.
As responsáveis são as estudantes da USP (Universidade de São Paulo) Zara Peixoto Vieira, 41, e Maria José Matos, 25, que escolheram os folhetos como tema de uma monografia do curso de pós-graduação de semiótica e linguística.
As duas foram impulsionadas a estudar o inusitado objeto a partir de uma situação corriqueira.
"Estávamos andando de carro em um fim-de-semana, recebemos vários folhetos e passamos a analisá-los por brincadeira. Depois, decidimos usá-los como tema de nosso trabalho", conta Zara.
Elas dividiram a cidade de São Paulo em cinco regiões -norte, sul, leste, oeste e centro. Em cada uma delas, selecionaram quatro folhetos, com lançamentos de apartamentos de dois, três e quatro dormitórios.
A exceção foi a zona norte, onde elas não encontraram nenhum lançamento de quatro quartos.
No estudo, o bairro de Higienópolis foi considerado como região central, já que essa região não apresentava lançamentos de prédios residenciais.
"Ideal"
Zara e Maria José utilizaram a semiótica (ciência que estuda os signos) para analisar o discurso de cada um dos folhetos, além de suas similaridades e suas diferenças conforme a região da cidade.
Entre as conclusões está a de que as construtoras procuram adaptar os "ideais" de moradia de um setor da sociedade de acordo com sua necessidade de venda.
Por exemplo: suponha-se que a classe média tenha como ideal de moradia urbana um apartamento de três dormitórios, com conforto, lazer e segurança.
Dessa forma, a construtora, que possui terreno com medidas adequadas para a construção de um edifício com apartamentos de dois dormitórios, acaba optando por construir um prédio com unidades de três quartos menores, com área de lazer reduzida.
O resultado, segundo o estudo, é a constante frustração do comprador ao constatar as reais dimensões do imóvel.
Os itens comuns escolhidos para comparação entre as regiões foram localização, lazer, requinte, facilidade de aquisição e conforto (veja quadro ao lado).
Nas zonas leste e norte, por exemplo, o conforto é o atributo mais utilizado nos folhetos, enquanto na zona sul a localização é mais importante.

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