São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996 |
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Capela do Morumbi vive dias de Sistina
CASSIANO ELEK MACHADO
Inspirada pelo afresco que o pintor Michelangelo Buonarroti realizou na igreja italiana, a artista Beth Moysés inaugura hoje, com bolo de noiva e champanhe, a instalação "Forro de Sonhos Pálidos". O trabalho "mais arrojado" de sua carreira é composto por cinco painéis, pregados no forro da capela, em que foram entrelaçados 25 vestidos de noiva. Depois de pesquisa com mulheres de várias idades e classes sociais e da leitura de muito Nelson Rodrigues, autor que, segundo a artista, elaborou o retrato mais bem-acabado do casamento, Beth Moysés concluiu que o universo da noiva é "mais para o céu do que para a terra". Os 75 metros quadrados de cetim, tafetá, tule, vidrilhos e pérolas falsas, costurados num ateliê de 15 metros quadrados, dialogam justamente com a "realidade e a falta de realidade da noiva". "Todas esperam muito mais do que encontram no casamento." Como diria o jornalista Millôr Fernandes, "casamento é essa instituição em que as pessoas casadas colaboram permanentemente pra destruir". Ou: "você só compreende o significado profundo de sexo oposto quando se casa". Bucha e meia de seda A matéria-prima dos trabalhos de Beth Moysés sempre foi o universo feminino. No início dos anos 90, a artista plástica incorporou a bucha entre os seus materiais artísticos. "Alusão aos corpos que menstruam", explica o texto de apresentação do trabalho. Depois de pesquisar a pintura sobre meias de seda, Beth se sentiu atraída pelas vestimentas rituais das noivas. Casada desde os 20 anos, "e feliz", a artista, 35, confessa que vendeu seu vestido de noiva no dia seguinte ao do casamento. Acredita que a roupa é o símbolo máximo da desilusão feminina. Antes de usar o teto como moldura, a artista trabalhou com os vestidos como suportes para a pintura. Em 1997, o Rio de Janeiro têm encontro marcado com essas noivas de Beth Moysés, que expõe na galeria Thomas Cohn. Exposição: Beth Moysés - Forro de Sonhos Pálidos Vernissage: hoje, às 17h Quando: terça a domingo, das 9h às 17h. Até 24 de novembro Onde: Capela do Morumbi (av. Morumbi, 5.387) Texto Anterior: Estado faz "Festival do Trabalhador" Índice |
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