São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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'Feias' lutam por espaço na televisão

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um mercado dominado por divas -o das telenovelas-, é possível enumerar nos dedos as atrizes que podem ser consideradas feias. Aquelas que têm rosto, corpo ou voz fora dos padrões.
Nas novelas atualmente em exibição, há duas ditas "feiosas" que se destacam: Iara Jamra, 40, que interpreta a doméstica Lurdinha em "O Rei do Gado", e a novata Maria Maya, 15, a cafona e infantil Kelly Bolla de "Salsa e Merengue", da Globo.
Essas atrizes, assim como outras fora do padrão, correm o risco de sempre fazerem papéis de "tipos folclóricos ou exóticos".
Mal-vestidas ou mal-produzidas, suas personagens ou são pobres (empregadas e fofoqueiras) ou são peruas mal-amadas que, muitas vezes, passam por um "banho de beleza e de loja" no final da trama, para conquistar seus amados.
"A TV é uma indústria que tem de vender o belo. O povão, a torcida, quer ver belas mulheres. Entretanto, a teledramaturgia não pode prescindir dos mais variados tipos de atores", diz Mauro Alencar, 34, consultor e pesquisador de telenovelas da Rede Globo de Televisão.
Alencar, também professor de atores da emissora, afirma que, entre seus alunos, há alguns feios, mas os belos predominam.
"Atrizes que não são bonitinhas, loirinhas, têm que batalhar muito mais. A gente tem de ter mais talento, se dedicar muito e ter sorte", revela Iara Jamra.
Iara, que é atriz profissional desde 1982, só começou na TV em 1986, aos 30 anos, em "Selva de Pedra", como Diva, menina pobre que se transforma em perua. Descoberta por acaso -foi vista por Walter Avancini (diretor de novelas) em um comercial de pneus-, desde então só fez "personagens engraçados".
A atriz faz sucesso em "O Rei do Gado", como a empregada desbocada e apaixonada por Saracura (Sérgio Reis). "Ela cultua o ídolo, como toda empregada doméstica", explica Alencar.
Iara diz que, mais difícil do que começar na TV, é se manter nela. "Fiquei dois anos sem fazer novela antes de 'O Rei do Gado'."
Menina feia
Filha de Wolf Maya, diretor-geral de "Salsa e Merengue", Maria Maya não se importa de fazer o papel de menina feia.
"Achei a personagem superlegal, uma experiência inédita", explica a atriz, que estreou na TV no ano passado, na novela das sete "Cara & Coroa".
Para Maria, "o talento tem de superar a beleza". "Essa coisa de fazer personagem feia serve para mostrar que existe talento, que a TV não deve só ter rostos bonitos", afirma.

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