São Paulo, terça-feira, 5 de novembro de 1996
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Aquela mesma velha história...

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, Bobby Robson é um homem de sorte. Uma sorte de sorte que é invólucro de outras habilidades. Na edição de 1993 do "The Guinness Football Encyclopedia", além de verbete próprio, no qual é qualificado como um "sensível e decente homem", tem mais nove citações.
Para oferecer uma base de comparação, outro Bobby, o Charlton, talvez o mais famoso jogador inglês de todos os tempos, tem dez citações.
Na grama, um Bobby foi soberbo e vitorioso com a camisa do Manchester United e da seleção inglesa.
O outro Bobby jogou pelo West Bromwich e pelo Craven Cottage, pouco conhecidos por aqui. Teve carreira irregular na esquadra inglesa.
Depois, a bola do destino deu uma daquelas suas voltas.
Mas o outro Bobby, o Robson, apenas começava, enfim, a sua história e a segunda história do clube Ipswich Town.
A primeira tinha sido escrita por sir Alf Ramsey que, como ele, deixou o Ipswich para dirigir a seleção inglesa.
Na primeira, segundo os ingleses, foi eliminado pela mão de Deus de Maradona (ele que, agora, precisa bastante de uma mãozinha de Deus).
Na segunda, caiu, nas quartas-de-final, na disputa de pênaltis, contra a Alemanha.
Agora, Robson está no lugar do sonho de qualquer técnico de futebol. É o homem que dirige o fabuloso Barcelona de Giovanni, Ronaldinho e uma imensa legião de craques.
"The Faber Book of Soccer", editado por Ian Hamilton, é um dos melhores livros que conheço sobre futebol. Nele, Bobby Robson não é tratado propriamente como um gênio.
Durante a Copa-90, dois jogadores ingleses, Chris Waddle e John Barnes, conversaram com Pete Davies e detonaram o sistema de jogo de Robson.
Os jogadores -e também a imprensa- criticavam o excesso de esquematismo e o "defensivismo" do 4-4-2 então adotado por Bobby Robson.
(Apesar de ele ter conseguido a melhor campanha inglesa desde o título mundial de 66).
O título do texto sobre o atual técnico do Barça, no "The Faber Book of Soccer", é "Aquela Mesma Velha Coisa".
O Robson de 90 lembra o Parreira (que sai prematuramente do São Paulo) de 94. Um esquema rígido de 4-4-2, com os atacantes acumulando mais funções defensivas.
O Robson do Barça de hoje tem muito pouco a ver com o Robson da Inglaterra de 90.
Arma o time com muitos atacantes, não teme tomar contra-ataques, e dá muita liberdade de movimentação aos craques que tem no time.
(Até no 0 X 0 de ontem, contra o Sporting Gijón, o jogo ofensivo foi valorizado).
Inglês adora estudar táticas futebolísticas. Bobby Robson é inglês. Mas descobriu o maravilhoso mundo dos craques.
Isto é, descobriu "aquela mesma velha coisa".

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