São Paulo, quinta-feira, 7 de novembro de 1996 |
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"Lembranças da Panair no Brasil" não explica o essencial
MARCELO RUBENS PAIVA
O resultado decepciona. Num mercado de biografias detalhadas -como as de Ruy Castro, Fernando Moraes e Jorge Caldeira- "Lembranças da Panair do Brasil" lembra um manual de bordo. O livro não explica as razões que levaram autoridades do regime militar de 64 a decretar a falência da empresa, entregando a concessão dos vôos internacionais para sua concorrente, a Varig. O movimento militar de 64 rende, até hoje, debates, mas um tabu ainda persiste. Não só o poder mudou de mãos como parte da riqueza, especialmente no negócio de "concessões". O caso mais notório, a Rede Globo. O caso mais obscuro, a Panair do Brasil. Recentemente, em entrevista publicada no caderno MAIS!, o coronel Jarbas Passarinho declarou que os militares não tinham projeto para a economia brasileira. Mas depois de 64, diversos grupos empresariais se viram em maus lençóis, tendo seus negócios transferidos a grupos emergentes, aliados do pensamento militar. É o caso da Panair, empresa montada em 1930, que começou como operadora da Pan American (empresa norte-americana) e depois alçou vôo próprio. O símbolo da empreitada eram os aviões Baby Clipper e Catalina numa Amazônia pouco habitada. O primeiro desafio era convencer o governo de Getúlio Vargas a construir aeroportos. O final da Segunda Guerra trouxe a explosão da aviação comercial, com aviões de transporte de tropas readaptados e novos aeroportos. Segundo o livro, a Panair "já era nesse momento a empresa que possuía a maior extensão de linhas domésticas do mundo...". A posição estratégica do Brasil, já que aviões sem autonomia da Europa para a América Latina tinham de fazer escalas em solo pátrio, consolidou a supremacia da empresa. Em fevereiro de 65, um despacho da presidência da República suspendeu a concessão das linhas da Panair, adjudicando-as à Varig. Começa a liquidação da empresa. Arbitrariedade? Insanidade? O autor não busca os motivos que levaram os militares a decretar a falência da Panair. Uma explicação superficial: a amizade dos diretores da empresa com políticos depostos pelo golpe de 64, entre eles Juscelino Kubitschek. Ao final do livro, numa carta assinada pela diretoria da Panair, ficamos sabendo que a empresa (ou o que sobrou dela) está na Justiça pedindo indenização pela desapropriação da rede de radiocomunicação, a retomada das propriedades e o ressarcimento pelo pagamento das indenizações trabalhistas. Provavelmente, o autor não quis remexer em feridas, já que o caso está sub judice. E o caso Panair continua obscuro. Livro: "Nas Asas da História: Lembranças da Panair do Brasil" (117 páginas) Autora: Nair Palhano Barbosa Texto Anterior: Massivo tem hoje duas festas de 5 anos Próximo Texto: Maior mostra britânica exibe 340 filmes Índice |
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