São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Fio partido pode ter derrubado avião

RODRIGO VERGARA
ANDRÉ LOZANO

RODRIGO VERGARA; ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Engenheiros que investigam acidente afirmam que acionamento intermitente de relé deve ter provocado abertura de reverso

Um defeito no relé -interruptor elétrico- que aciona o reverso da turbina teria causado a queda do Fokker-100 da TAM no dia 31 de outubro em São Paulo.
A falha é considerada a mais provável por uma equipe paralela que investiga o acidente formada por engenheiros da TAM, da American Airlines e por técnicos do CTA (Centro Técnico Aeroespacial).
Segundo um funcionário da TAM, o relé teria sido acionado intermitentemente, o que explicaria o fato de o reverso ter aberto e fechado quatro vezes na decolagem.
A hipótese da equipe paralela é que um fio que aciona o relé tenha se rompido e, em contato com a lataria do avião, tenha causado o acionamento intermitente -uma espécie de pisca-pisca.
O Fokker apresentou problemas ainda no chão, quando o reverso abriu pela primeira vez. O defeito causou redução automática da rotação do motor direito. Um dos manetes que controlam a aceleração na cabine recuou.
Imaginando uma falha da aceleração automática da aeronave -o autothrottle-, o comandante José Antonio Moreno teria desligado o dispositivo.
Controlando manualmente a potência dos motores, Moreno avançou novamente o manete do motor direito. Pela segunda vez, o reverso se abriu e o manete recuou. Mas desta vez, travou. O avião estava neste instante perdendo contato com o solo. Já no ar, o reverso teria aberto outras duas vezes, mantendo mínima a potência do motor.
Segundo o funcionário da TAM, mesmo que a turbina tivesse sido desligada, o que anularia o reverso, o avião não teria como manter o vôo, por falta de velocidade.
A abertura do reverso é anunciada painel por um display vermelho onde está escrito "reverser unlocked" -reverso destravado. Esse aviso, porém, durante decolagens e pousos está inibido por um sistema que limita os alertas para não desconcentrar o piloto.
Somente acima de mil pés (cerca de 330 m) é que o aviso se acende.
Problema conhecido
O jato teria decolado de Congonhas com informação de que o avião tinha problemas no sistema de aceleração (autothrottle).
Esse sistema com problemas potenciais teria confundido o comandante Moreno como sendo o causador da perda de potência na turbina do avião.
Essas informações estão sendo analisadas pela comissão oficial que investiga o acidente.
O que teria acontecido foi o seguinte: o livro de vôo do Fokker-100 apontaria uma pane no autothrottle. Como esse problema não é considerado de alto risco e permite ao piloto prosseguir a decolagem, o comandante Moreno teria decidido voar.
O avião iniciou a decolagem e, mesmo o reverso abrindo enquanto o avião corria na pista, o piloto não tomou conhecimento do problema porque não foi informado pelo painel de controle. Caso contrário, teria abortado a decolagem.
Logo após ter decolado, o avião começou a perder potência e o manete da aceleração retornou à posição de desaceleração. O comandante teria interpretado que o autothrottle havia entrado em pane, como já seria previsto no livro de procedimentos de vôo.
Nessa hora, o comandante Moreno diz ao co-piloto "em cima, em cima", indicando que deveria apertar o botão que desliga o autothrottle para que a decolagem prosseguisse manualmente.
A divulgação oficial da causa do acidente só será feita pela equipe de investigação formada por técnicos da Aeronáutica e das empresas envolvidas na queda do avião e por representantes dos aeronautas e aeroviários.

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