São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996 |
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Dívida faz laboratório ameaçar governo FÁBIO GUIBU FÁBIO GUIBU; DANIELA FALCÃO
Os 13 laboratórios farmacêuticos estaduais existentes no Brasil ameaçam paralisar a produção de medicamentos para o Ministério da Saúde a partir da próxima quinta-feira, por falta de pagamento. O ministro interino da Saúde, José Carlos Seixas, disse que não sabia da ameaça e que não vai deixar que faltem medicamentos. Segundo a Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil, o governo deve aos laboratórios cerca de R$ 50 milhões. A quantia é referente à segunda parcela de uma série de contratos assinados em 27 de junho. Os recursos, segundo o presidente da entidade, Antonio José Alves, deveriam ter sido liberados em 16 de setembro. "Até agora não recebemos nem explicações." Os 18 laboratórios oficiais em funcionamento no país -13 estaduais e cinco federais- são responsáveis pela produção de 50% dos medicamentos distribuídos à rede pública pelo Ministério da Saúde, diz Alves. AZT Entre os remédios produzidos por eles está o AZT, utilizado no combate à Aids. O único fornecedor do produto ao Ministério da Saúde é o Lafepe (Laboratório Farmacêutico de Pernambuco). O contrato entre a instituição e o ministério prevê a produção de 36 milhões de cápsulas do medicamento este ano. Metade já foi entregue, e o restante, de acordo com Alves, depende do pagamento da dívida pelo governo. Segundo Alves, que também preside o Lafepe, cerca de 50 mil portadores do vírus da Aids no Brasil utilizam o medicamento fornecido pelo governo federal. A eventual paralisação dos laboratórios provocaria também o desabastecimento de remédios usados em programas de combate à hanseníase, tuberculose e cólera. Deixariam ainda de ser fabricados diversos tipos de antibióticos, analgésicos e reguladores da pressão arterial, segundo Alves. Saída de Jatene Alves nega que a decisão dos laboratórios tenha ligação com a saída de Adib Jatene do Ministério da Saúde, apesar de considerar a demissão do ex-ministro "uma grande perda". Ele disse que a ameaça de paralisação dos laboratórios foi comunicada a Jatene em ofício enviado em 4 de novembro. Para ele, se a queda de Jatene foi provocada por falta de verba para a Saúde, "será a catástrofe". No documento, Alves critica o governo por exigir dos laboratórios "eficiência no cumprimento do cronograma", ao mesmo tempo em que "os pune com o atraso na liberação de verba". Ministério da Saúde O ministro interino da Saúde, José Carlos Seixas, afirmou que não sabia da ameaça dos laboratórios de parar de distribuir os medicamentos nem da dívida de R$ 50 milhões, mas disse que não vai deixar que faltem medicamentos. Seixas disse que poderá usar parte dos R$ 586 milhões que haviam sido liberados anteontem à noite para pagar as internações hospitalares de setembro, saldar o débito e regularizar o fornecimento. "Fui surpreendido com a notícia, mas não deixarei nenhum hospital sem medicamento. Vamos ver o que dá para fazer", afirmou. Colaborou DANIELA FALCÃO, da Sucursal de Brasília Texto Anterior: ARÓSIO; COCAÍNA; TELEFONIA; ATENTADO; BALA PERDIDA; TIROTEIO Próximo Texto: Vacinas e remédios podem faltar em 97 Índice |
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