São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Balestre devolve título surrupiado de Senna

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Que Jean-Marie Balestre não passa de um canalha, nenhum amante do automobilismo tinha a menor dúvida.
Mas, depois de sua declaração, terça-feira, em Paris, de que ele teria usado de sua autoridade suprema para desclassificar Ayrton Senna do GP de Suzuka de 1989 a fim de "dar uma mãozinha" a seu conterrâneo, o francês Alain Prost, que acabou levando o título mundial da temporada, chamar o ex-presidente da Fisa de porco imundo passa a ser considerado ofensa grave contra qualquer suíno.
Pior do que a trapaça que acaba de vir à tona, são os motivos obscuros que levaram Jean-Marie Balestre a revelar publicamente a tramóia.
Eu explico: o "board" da antiga Fisa, hoje FIA, entidade que comanda o esporte no mundo, é composto por representantes de todos os países que promovem competições internacionais. Trata-se de uma entidade da máxima seriedade, cuja estrutura não permite que um dirigente possa armar uma tramóia dessa magnitude e ficar tudo por isso mesmo.
Na minha modestíssima opinião, são três os motivos que podem ter levado Balestre a fazer a surpreendente revelação: ele estava com saudades das páginas dos jornais, quer denegrir a FIA ou então brigou com Alain Prost.
Sim, pois, na prática, o que Balestre fez foi manchar de forma irremediável o currículo de seu amiguinho piloto. De agora em diante, os quatro títulos de Alain Prost passam a ter o mesmo valor que os três de Ayrton Senna.
Claro, qualquer um que tenha tido o privilégio de assistir a um Grande Prêmio com chuva disputado por Prost e Senna sabe quem era o melhor piloto entre os dois.
Dava até pena ver Prost escorregando na caixa de brita ou enchendo o guard-rail enquanto Ayrton voava para a vitória. E, com carros iguais, Senna sempre mostrou mais braço nos treinos.
Mas Prost detém o recorde de vitórias e só Fangio tem mais títulos do que ele.
Balestre também tem lá seus méritos. Entrou para a história por ter criado regras que tornaram a F-1 mais segura.
Enquanto isso, Ayrton teve de pedir desculpas públicas ao dirigente para poder correr na temporada seguinte. E não está aqui agora para confirmar que, moralmente, foi o campeão mundial de 1989.

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