São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Bolas perdidas

JUCA KFOURI

Dos 57 pontos que o Flamengo disputou neste Campeonato Brasileiro ganhou apenas 26, menos da metade.
Nos últimos dois anos, exceção feita ao pálido título estadual do semestre passado, o Mengo não ganhou nada, mas gastou uma montanha de dinheiro, levando seu endividamento à casa dos R$ 40 milhões. Aliás, deve para Previdência Social e continua a ser patrocinado por uma estatal, algo, no mínimo, estranho.
A crise do clube mais popular do país revela as duas faces de uma mesma moeda.
De um lado, a falta de um projeto profissional.
Vale repetir que o marketing virou um fim em si mesmo na Gávea, em vez de ser apenas o que é, um meio.
Foi um tal de comprar jogador sem o menor discernimento, trocar Romário por Bebeto para depois trocar Bebeto por Romário, inventar um radialista como técnico, numa frase, fazer espuma pela espuma.
Kleber Leite, o líder de gestão tão desastrada, como Jim Jones, conduziu toda uma nação ao suicídio coletivo, numa sucessão de bolas perdidas.
Seu discurso, respaldado pelo grupo Havelange, lembra muito o de políticos e de empresários que fizeram fama, fortuna e lambanças pelo Brasil afora no final dos anos 80, começo dos 90.
A outra face da moeda não é menos grave. O silêncio quase geral da imprensa sobre tamanho descalabro.
Ex-radialista muito popular em seu meio, o presidente do Flamengo enriqueceu vendendo placas, explorando o Maracanã e o próprio clube, além de aliciar boa parte de seus colegas em suas empreitadas.
Daí a quase nenhuma crítica que recebe, coisa impensável em se tratando de Flamengo fosse outro o presidente.
Além das exceções de praxe na imprensa escrita, um mês atrás, enfim, o silêncio começou a ser rompido para valer.
Primeiro por meio de um brilhante artigo do jornalista Marcos de Castro, Editor de Qualidade do "Jornal do Brasil", cujo título diz tudo: "O culpado é Kleber Leite".
Agora, no mesmo "JB", mais exatamente na revista dominical do jornal, o colunista Tutty Vasquez destila seu veneno implacável na mesma direção.
Jornalistas não têm amigos, idealizam os manuais. Por mais que seja mesmo uma utopia, também não é preciso exagerar.
Porque poupar o amigo, no caso, é condenar o Flamengo à lenta, e desnecessária, agonia.

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