São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Paddock mistura salmão e carne-seca com elegância

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há um certo ar majestoso no Paddock Jardim que é sempre bom reencontrar. Espaço generoso, confortáveis poltronas de couro, tapete que silencia o andar, um clima de clube inglês discretamente ornado com motivos de cavalos por todo lado. Obra de Luiz Paduan, seu proprietário, que o abriu em 1977 como filial do Paddock do centro.
Há também um bar sério, com profissionais que sabem mais do que somente lustrar copos (o que, aliás, nem todos sabem por aí), capazes de servir coquetéis honestos. Cada gole acalentado por música ao vivo, como um grande bar deve ser, mesmo sendo apêndice de um restaurante.
Mas a majestade infiltra-se também nos preços do Paddock Jardim: no cardápio regular, dividido em seções francesa e italiana, eles têm cifras de "sweepstakes". Ainda bem que o menu anda semi-recoberto por folhinhas de papel onde se encontram as ofertas mais ponderadas da casa.
Elas aparecem sob o codinome de menu gastronômico, que neste caso, ao contrário do resto do mundo, é na verdade o menu econômico (são R$ 25 por couvert, entrada, prato principal, sobremesa, café).
Neste não aparecem as vieiras, os espaguetes com frutos do mar, o linguado com pimenta verde, o carré de cordeiro e outros itens do menu oficial. Mas pode-se encontrar salada verde roquefort, filé de salmão ao estragão, escalope de filé com funghi, crepe de frutas...
Não é ainda aí, porém, que se completa o principal atrativo do Paddock Jardim. Não é nem mesmo na sua grande adega climatizada, sinal de meritório respeito pelos vinhos (servidos, porém, em taças ruins).
O mais atraente no Paddock -capaz de suplantar o tratamento um tanto antiquado de algumas receitas mais clássicas (cheias de creme) e a falta de leveza em alguns pratos mais delicados (como o salmão, muito seco)-, o que oculta e revela sua verdadeira majestade, é a permanência de pratos aparentemente vulgares, de apelo popular, anexados numa folhinha mínima presa ao menu.
Vá ao Paddock ouvir jazz ao vivo, refestelar-se em couro -e comer dobradinha. Ou carne-seca. Mocotó de boi, quem sabe, ou moqueca. Vá no sábado comer feijoada; senão, língua com lentilha. Peça rãs (costumam ter). Homenageie pratos de perfil popular, da cozinha que os franceses chamam de burguesa (como oposto a aristocrática), que merecem o tratamento gastronômico que poucos restaurantes se dignam a dar.
Coma picadinho e pastéis e pague menos que o Paddock Jardim cobra por coisas supostamente mais sofisticadas, mas que não valem o que pesam.

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