São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Combinação de remédios reduz Aids em crianças

JAIRO BOUER; LUCIA MARTINS
DOS ENVIADOS ESPECIAIS

Resultados preliminares de um estudo com crianças portadoras do vírus da Aids mostram que o uso do esquema tríplice de drogas reduz a carga viral e aumenta o número de células de defesa (CD4).
A pesquisa -divulgada no 3º Congresso Internacional de Tratamento da Infecção pelo HIV- analisou a aceitação da coquetel (ritonavir, AZT e ddI) em 46 crianças de 6 meses a 18 anos.
A pesquisa é importante porque pode fornecer subsídios para a futura aprovação para uso infantil dos novos medicamentos pela FDA (agência que regula o uso de remédios nos EUA).
Os melhores resultados foram observados nas doses mais altas (proporcionais às doses dadas aos adultos). A carga viral também teve uma boa resposta. Houve uma queda maior com o uso de doses mais elevadas dos remédios.
A queda da quantidade de vírus e a elevação das células de defesa foram mantidas por 24 semanas. O estudo continua em andamento.
Brigitta Mueller, do Instituto Nacional de Câncer de Bethesda (EUA), explicou que nove crianças não conseguiram completar o estudo. Quatro tiveram fortes reações aos medicamentos (vômitos e náuseas), duas se "recusaram a continuar", e as três últimas tiveram elevações nas enzimas do fígado, possível sinal de toxicidade.
Segundo Mueller, uma avaliação mais longa é necessária para checar os efeitos de longo prazo do coquetel nas crianças. Os objetivos agora são pesquisar novas formulações para reduzir a intolerância e estudar a eficiência do coquetel na transmissão de mãe para filho.
Segundo Marinella della Negra, chefe da unidade de Aids pediátrica do Hospital Emilio Ribas (São Paulo), os resultados preliminares do uso do coquetel em crianças são bastante animadores.
Mas Della Negra diz que as novas drogas só devem ser dadas para as crianças quando o resultado final do estudo ficar pronto.
Tratamento
No caso dos adultos, o tempo mínimo de tratamento de um portador do HIV com o coquetel deve variar de dois a três anos.
Essa foi a estimativa feita pelo pesquisador americano David Ho, do Aaron Diamond (Nova York).
Ele afirmou, no entanto, que esse é o tempo previsto para acabar com o vírus nos dois "compartimentos" conhecidos hoje pelos cientistas.
O primeiro é composto pelas cópias livres do vírus e pelos linfócitos CD4, onde ele se multiplica rapidamente. O segundo é formado pelas células em que o vírus fica latente ou naquelas em que ele se multiplica lentamente.
Ho disse que, caso haja outros compartimentos onde o vírus se esconde, essa estimativa perde o valor, e o tempo de tratamento terá de ser estendido.
Ho sugeriu que as células onde o vírus está latente sejam estimuladas e se multipliquem. O que significaria aumentar a carga viral, mas com o objetivo de acabar com todos os vírus dificilmente atingidos pelos medicamentos.
(JB e LM)

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