São Paulo, sábado, 9 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Não percebi pane', diz comandante

Piloto anterior à queda nega 'barulho estranho'

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Armando Luiz Barbosa, 42, fez a penúltima viagem com o Fokker-100 da TAM que caiu na semana passada. Ele trouxe o avião de Caxias do Sul (RS) a São Paulo e passou o comando a José Antonio Moreno. O avião caiu logo depois da decolagem. Barbosa falou à Folha ontem na pista do aeroporto de Presidente Prudente (SP) e negou possíveis falhas na aeronave. Para ele, falha no reverso seria a causa. A seguir, os principais trechos da entrevista.
*
Folha - O sr. fez a penúltima viagem com o F-100 que caiu em São Paulo. Qual foi a rota?
Armando Luiz Barbosa - Eu levei o avião para Curitiba (PR) e fiz a rota Curitiba-Caxias do Sul, um dia antes. Dormi em Caxias e trouxe o avião até São Paulo, onde o entreguei ao comandante Moreno.
Folha - Moradores de Caxias do Sul (RS) teriam alertado a TAM sobre um "barulho estranho" nas turbinas. O sr. notou algo, o computador chegou a registrar?
Barbosa - O computador não registrou e eu não observei nada.
Folha - Há informações de que o jato teria decolado de Congonhas com problemas no sistema de aceleração. O sr. notou isso?
Barbosa - Não. No meu vôo não deu nada. Se bem que isso não é um problema que comprometa a segurança. É um sistema de potência automático que você pode operar na mão.
Folha - O painel chegou a indicar algum problema no reverso?
Barbosa - Não. Esse é um item comprometedor. Se ele dá essa indicação, a gente tem providências a tomar. Reverso não derruba avião.
Folha - O que pode ter causado este acidente?
Barbosa - A única coisa que pode ter derrubado este avião é o reverso.
Folha - Mas o sr. disse que o reverso não derruba avião. O que ocorreu, na sua avaliação?
Barbosa - O problema é que, neste caso, essa tampa do reverso entrava e saía, entrava e saía, e desestabilizou o avião em velocidade baixa e em altitude mínima. O Moreno não teve tempo para tomar uma decisão.
Folha - Esse acidente é comum?
Barbosa - Não. É raro. Deve ser o primeiro no mundo.
Folha - Os srs. são treinados para enfrentar situação de falha no reverso?
Barbosa - Nós somos treinados para solucionar qualquer problema. Mas nunca vi essa concha ciclar. No simulado, ela só abre e não abre e fecha.
Folha - O sr. indicou no livro de bordo algum defeito no vôo entre Caxias e São Paulo?
Barbosa - Não houve nada.
Folha - A imprensa divulgou que houve um problema de rádio.
Barbosa - Isso é irrelevante. O avião tem quatro rádios desses.

Texto Anterior: Avião teria feito escala de emergência
Próximo Texto: 'Sou bode expiatório', diz dono de agência
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.