São Paulo, sábado, 9 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Domingo vive seu grande dia de Peri

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Estréia hoje em Washington a ópera "Il Guarany", de Antonio Carlos Gomes, com o tenor espanhol Plácido Domingo no papel de Peri, regência do maestro brasileiro John Neschling e direção do cineasta alemão Werner Herzog.
Pela primeira vez neste século, será interpretada a partitura original de Gomes.
Ela foi reconstituída nos últimos dez anos pelo maestro Silvio Barbato, que acompanhou o ensaio geral na quarta-feira passada na Ópera de Washington e se disse bastante satisfeito com o resultado.
"A orquestra rendeu muito bem", disse Barbato. Domingo não cantou toda a ópera para poupar a voz. Anteontem, ele tomou parte na "Carmen", de Bizet, no Metropolitan, em Nova York.
A produção de hoje é a primeira da Ópera de Washington sob a administração artística de Plácido Domingo.
Em maio, em entrevista exclusiva à Folha, Domingo disse ter escolhido o trabalho de um brasileiro como o inaugural de sua gestão como diretor artístico da Ópera de Washington para simbolizar sua opção pela cultura ibero-americana.
Domingo, 55, tirou "Il Guarany" de longo ostracismo há dois anos, ao encená-la na Ópera de Bonn (Alemanha).
Uma gravação ao vivo da produção alemã foi feita pela Sony e está à disposição do público. Domingo considera a possibilidade de encenar outra ópera de Carlos Gomes: ou "Fosca" ou "Lo Schiavo".
Horário nobre
A rede pública de TV dos EUA (PBS) apresentou ontem à noite, em horário nobre, documentário sobre "Il Guarany", Carlos Gomes e Placido Domingo.
Carlos Gomes também foi o tema da reportagem de capa da "Revista da Ópera de Washington" deste bimestre.
A autora do texto, Mary Jane Phillips-Matz, diretora do Instituto Americano dos Estudos sobre Verdi, na Universidade de Nova York, chama o compositor de "gênio" e diz que ele chegou a ser considerado um possível herdeiro de Giuseppe Verdi, tido por muitos como o maior compositor de ópera de todos os tempos.
A revista traz ainda um artigo de Ralph Edward Dimmick, ex-professor da Universidade de Harvard, sobre o romance "O Guarani", do romancista José de Alencar, em que a ópera, escrita em 1870, foi baseada.
Alavanca
A escolha de Domingo como diretor artístico da Ópera de Washington é considerada pelos dirigentes da companhia como a grande alavanca para colocá-la entre as melhores dos EUA.
Em 2000, ela estará mudando para uma sede própria (atualmente funciona no Kennedy Center), o prédio de uma loja de departamentos no centro da cidade, comprado este ano e atualmente sob reformas.
A Embaixada do Brasil em Washington colocou a produção de "Il Guarany" na cidade entre suas prioridades políticas deste ano.
Ela deu assistência à Ópera de Washington e ajuda ao maestro Barbato para terminar seu trabalho de arqueologia musical para reconstituir a partitura da ópera como escrita por Carlos Gomes.
Além de Placido Domingo, estão no elenco Verónica Villaroel (Ceci), Hao Jiang Tian (dom Antônio), William Joyner (dom Álvaro), Carlos Álvarez (Gonzales), Victor Barret (Ruy Bento), Daniel Sumegi (Alonso), Boris Martinovic (cacique Aymoré) e Jed Collard (Pedro). Os cenários são de Maurizio Baló e os figurinos, de Franz Blumauer.

Texto Anterior: Fim impediu show dos Pistols no Rio em 78
Próximo Texto: Tônia Carrero mostra intimidade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.