São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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A globalização na mídia

LUÍS NASSIF

Nos próximos anos, será a vez de a mídia entrar na dança da modernização e das grandes fusões que estão marcando a imprensa, em nível mundial.
No Brasil, será um dos últimos setores a sentir na própria carne os efeitos da globalização. E o resultado final poderá ser bom tanto para a mídia como para o Brasil, desde que se estabeleça um equilíbrio nesse jogo.
O agente propulsor desse processo será a ameaça representada aos demais grupos pelo chamado Sistema Globo de Comunicação.
A explosão da televisão, ao longo dos anos 70, e o pioneirismo de Roberto Marinho conferiram poder extraordinário ao grupo.
Em maior parte, devido à competência demonstrada em algumas áreas-chave como na televisão e no jornal. Em menor parte, devido ao poder político acumulado, que lhe permitiu conduzir algumas operações heterodoxas, como a assunção do controle da NEC do Brasil.
Mesmo errando em algumas operações no varejo, e saindo atrasada -em relação a outros países-, ainda assim a Globo demonstrou competência específica para liderar internamente dois processos-chave.
O primeiro, a entrada pesada em novos ramos da tecnologia da informação, especialmente na tecnologia de satélites e na TV a cabo. O segundo, na busca de alianças e associações estratégicas com outros grupos.
Apesar da posição de líder induzir a uma certa propensão à arrogância, houve suficiente visão estratégica, por parte da nova geração, para buscar alianças ou com grupos financeiros fortes (com o Garantia, na operação da TV a cabo) ou com grupos regionais fortes (com a RBS, na TV Rural).
Se não houver reação dos demais grupos, essa acumulação de forças poderá provocar o monopólio virtual da comunicação no Brasil, algo que não interessa nem aos concorrentes nem ao Brasil.
Mesmo que em seu segmento de atuação, individualmente, cada concorrente tenha uma operação específica mais competente ou, no mínimo, competitiva em relação à Globo, a soma de forças do complexo poderá desequilibrar a competição em todas as frentes, seja em jornal, editora ou televisão.
É essa ameaça que deverá levar nos próximos anos, inevitavelmente, a dois processos complexos. Numa ponta, a uma ampla política de fusões e alianças estratégicas, entre grupos nacionais e estrangeiros, da qual resultará novos supergrupos de comunicação.
Na outra, a uma batalha política para colocar limites ao poder da Globo, já que há o risco concreto de que assuma o controle virtual da mídia no país.
A batalha consistirá em estabelecer limites legais à expansão da rede, e separar claramente produção e distribuição para não permitir que o controle da distribuição se converta em barreira para a entrada de novos grupos.
Há anos, a Globo é motivo de orgulho para o país pela qualidade internacional que conferiu a seus produtos. Mas tornou-se poderosa demais, em uma área que é muito mais crucial para o equilíbrio democrático do que o petróleo: a informação.

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