São Paulo, terça-feira, 12 de novembro de 1996
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Brasileiro vence concursos internacionais de violão

Fábio Zanon ganhou duas das mais importantes competições

IRINEU FRANCO PERPÉTUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um brasileiro venceu os dois principais concursos de violão do mundo. Fábio Zanon, 30, ganhou, em dois meses, o Concurso Francisco Tarrega e o Guitar Foundation of America (GFA).
Radicado em Londres há seis anos, Zanon venceu em 31 de agosto a 30ª edição do Concurso Francisco Tarrega, na cidade espanhola de Benicassim, na região de valência. O primeiro lugar lhe garantiu um prêmio de US$ 10 mil e um contrato de gravação de um CD com o selo Opera Tres, de Madri.
Em 26 de outubro, veio a vitória no 14º Concurso Internacional Guitar Foundation of America, realizado em Saint Louis (EUA). Zanon embolsou US$ 5 mil e ganhou uma turnê de 50 concertos nos EUA, em 97.
A última apresentação brasileira de Fábio Zanon foi em 16 de outubro, na série Concertos Grande ABC, em Santo André.
Neste mês, ele vem ao Brasil para gravar, pelo selo EGTA, um CD com repertório latino-americano. Toca na Fundação Maria Luísa e Oscar Americano, em São Paulo, no dia 24, e em Recife, em 11 de dezembro.
Zanon concedeu entrevista exclusiva à Folha de Madri, onde se encontrava em turnê.
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Folha - Qual o segredo para ganhar dois concursos importantes em tão pouco tempo?
Fábio Zanon - É fundamental ter um repertório grande ou, pelo menos, facilidade para aprender repertório novo em pouco tempo. No meu caso, acho que o que ajudou foi ter ido desencanado para os concursos. Acabei tocando mais tranquilo do que os outros finalistas. Para você ter uma idéia, na véspera da final do Francisco Tarrega, fiquei jogando bilhar com os violonistas que tinham sido eliminados até as 3h30 da manhã. Acordei ao meio-dia, estudei à tarde e, à noite, ganhei o concurso.
Folha - Se um pianista tivesse ganho, em menos de dois meses, o Concurso Tchaicovski e o Concurso Chopin, ele estaria consagrado. Você se sente frustrado porque o violão não tem tanta repercussão?
Zanon - O violão é uma flor no meio do charco. É mesmo um instrumento marginalizado. Sem dúvida, com o meu currículo, se eu tocasse piano, estaria muito melhor de vida. O problema é que o violão não se integrou bem ao circuito musical, e o circuito próprio do violão ainda não tem maturidade institucional para assegurar, por si só, uma carreira de sucesso. Folha - Como você chegou ao violão?
Zanon - A música chegou relativamente tarde à minha vida. Meu pai tocava violão, mas eu não tinha interesse. Lembro-me que, aos 8 anos, ouvi o "Concerto Brandemburguês nº 1", de Bach. Fiquei apaixonado e pedi a meu pai que me ensinasse violão -não porque o instrumento me interessasse, mas apenas para poder ler música.
Só fui pegar um professor aos 14 anos. Mesmo assim quando entrei no curso de música da USP, ainda não achava que poderia tocar profissionalmente -tanto que me inscrevi no curso de composição.
Folha - Ter começado tão tarde não prejudicou sua carreira?
Zanon - Quem começa a tocar violão cedo tem mais desenvoltura técnica, mas demora a adquirir maturidade musical. Comigo foi o contrário: comecei gostando de música, e só aos poucos o violão foi entrando na minha vida. Uma cosia acaba compensando a outra.
Folha - Neste ano, até no concurso que perdeu, o da Naumburg Foundation, em Nova York, em junho, você acabou ganhando uma gravação de CD.
Zanon - Fiquei satisfeitíssimo, porque o selo Music Masters me convidou para gravar a integral da obra de Villa-Lobos para violão. Folha - Seu mestrado na Universidade de Londres foi sobre Villa-Lobos. É verdade que descobriu a página perdida de uma obra dele?
Zanon - Villa-Lobos era muito desorganizado. Na hora de editar os 12 estudos, acabou mandando uma cópia cheia de erros para a editora dele, a Max Eschig. Depois ele mandou uma outra cópia, na qual há uma série de notas corrigidas. Além disso, essa outra cópia, que está no Museu Villa-Lobos, tem ainda 17 compassos a mais do Estudo nº 10 -que as pessoas têm chamado de "página perdida".
Pretendo fazer a primeira gravação desta versão dos estudos do Villa-Lobos. Ele é a raiz do repertório do século 20.

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