São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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"Anjos Caídos" revive glória "néon-realista"

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

A MTV encontra Jean-Luc Godard. Assim é "Anjos Caídos", de Wong Kar-wai, o cineasta das fantasias alucinantes do amor.
Reconhecido por "Amores Expressos" (exibido no Brasil em 95), Kar-wai construiu sua carreira no início da "nouvelle vague de Hong Kong", nos anos 80.
Ao contrário do movimento francês, os jovens chineses fariam a revolução não apenas reavaliando, retomando ou retocando a própria história do cinema. Aos gastos clichês cinematográficos se somaria a velocidade da TV.
Kar-wai é a estrela desse encontro e explora até a exaustão suas possibilidades. Seu universo é então o dos roteiros já contados e dos personagens já vistos.
"Anjos Caídos" conta a paixão de uma garota de programa por um matador profissional que só aceita sua ocupação porque "não gosta de tomar decisões". E há ainda, em sua bizarra galeria, o rapaz que perdeu a capacidade de falar.
O enredo em Kar-wai, na verdade, é um pretexto. A ele essas figuras pouco -ou nada- importam. São apenas o motivo para que elabore seu cinema de néon.
Imagens distorcidas, velocidades alteradas, o branco e preto elaborado e a lente grande angular são os elementos utilizados pelo cineasta para devolver ao Ocidente, ou a sua cultura, um dos maiores legados dados aos chineses de Hong Kong: a desordem urbana.
Kar-wai é o cineasta de seu tempo. O que significa que a todo instante joga aos olhos do espectador a idéia de que não há mais verdade ou certeza sobre a Terra, mas apenas luz, efeitos e fantasia.
É uma opção radical, muitas vezes falha e imprecisa. Mas é também o que o transforma hoje em um cineasta único, tendo o sucesso que tantos -assim como Francis Ford Coppola em "O Fundo do Coração"- apenas tentaram. Wong Kar-wai é o príncipe do "néon-realismo".

Filme: Anjos Caídos (Fallen Angels)
Produção: Hong Kong, 1995
Direção: Wong Kar-wai
Com: Leon Lai Ming, Takeshi Kaneshiro, Charlie Young
Quando: a partir de hoje, no Cinesesc

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