São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Humor cirúrgico faz rir

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Francis Ponge, o poeta, comparava o incendiário e do bombeiro. O primeiro destrói colocando fogo nas coisas. O segundo apaga o fogo.
Mas Ponge imaginava um bombeiro que nunca pára de jogar água, de tal modo que termina por fazer um estrago pior que o do incendiário: faz com que tudo submerja, silenciosamente.
A anarquia de "Mash" (Fox, 0h30) está provavelmente neste último caso. O filme foi feito em plena Guerra do Vietnã, em 1970. Enquanto os estudantes saíam às ruas para protestar contra o conflito, Robert Altman optou pelo cinismo como forma de ação.
Um grupo de médicos trabalha num hospital no front, durante a Guerra da Coréia (anos 50), em condições lastimáveis. Nas mesmas condições, mais ou menos, em que chegam seus pacientes. E tudo parece sugerir um colapso mais que iminente.
No entanto, Altman trabalha o humor de tal forma que a guerra logo é esquecida. A atenção do espectador vai para os personagens. Os soldados, os oficiais. E, sobretudo, os três médicos que instauram o caos com empenho digno de um burlesco dos anos 10 e põem a idéia de hierarquia em pânico.
Isso permite ao filme flagrar, na sólida carapaça que reveste os exércitos, seus pontos fracos e explorar até o osso essas fragilidades.
O filme de Altman é um caso radical de humor cirúrgico: bota abaixo o militarismo, com o jeito inocente de quem não não quer nada com nada.
(IA)

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