São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
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Freio na economia pode ser antecipado

VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo Fernando Henrique Cardoso pode adotar, no início de 97, medidas para reduzir o ritmo de crescimento da economia. O objetivo é diminuir os déficits da balança comercial (importações superiores às exportações).
A intenção inicial da equipe econômica, com o aval de FHC, era aguardar a votação da emenda da reeleição no Congresso, o que não deve ocorrer antes de março, segundo as previsões mais otimistas.
Só depois é que seria analisada a necessidade de promover uma correção de rumo no Plano Real.
A mudança de estratégia está sendo analisada depois do elevado déficit da balança comercial em outubro -US$ 1,3 bilhão. A equipe econômica se assustou com o resultado. A expectativa era que ficasse no máximo em US$ 1 bilhão.
O governo vai esperar os números da balança comercial deste mês e de dezembro. Caso os déficits continuem elevados, a equipe econômica deve "puxar as rédeas da economia" -segundo expressão de um governista- ainda no primeiro trimestre de 97.
Em outras palavras, o governo voltaria a usar os chamados "instrumentos de política monetária": subir os juros e restringir o crédito, provavelmente por meio da elevação dos recolhimentos compulsórios dos bancos ao BC.
Biografia
FHC comentou nos últimos dias com amigos que "a estabilidade econômica está acima da reeleição". Disse ainda que não estaria disposto a manchar sua biografia em troca de um novo mandato.
Qualquer medida, porém, por determinação do próprio Palácio do Planalto, não poderá trazer um clima de recessão econômica.
Ou seja, o governo pode adotar medidas de correção de rumo, mas elas não poderão ser muito amargas, a ponto de criar um clima negativo, capaz de sepultar de vez a emenda da reeleição.
No início do ano, o governo previa fechar 97 com déficit zero na balança comercial. Recentemente, mudou a previsão para US$ 3,5 bilhões. Agora, há quem aposte num rombo entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões.
Alguns integrantes da área econômica acreditam que o país pode registrar crescimento de 4% do PIB em 97 sem grandes riscos para as contas externas.
Mantido o ritmo atual, a economia brasileira cresceria no próximo ano acima de 5%. Esse seria um crescimento indesejável para a saúde das contas externas, na avaliação de parte da equipe.
Como o dólar está baixo em relação ao real, e a economia está aberta a produtos estrangeiros, as importações disparam sempre que a economia cresce a taxas elevadas.

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